“A Europa em vez de estar à defesa tem que estar ao ataque. E está à defesa: de cada vez que aparece uma eleição ou uma campanha fica cheia de medo de que surja uma voz, uma vitória antieuropeísta, contrária à Europa, dividindo a Europa, separando os europeus”, sustentou o chefe de Estado em declarações aos jornalistas à margem da sessão de abertura do XIII congresso da UGT, que decorre hoje e domingo no Porto.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o que se impõe é uma Europa “ao contrário”, orientada por uma “visão de médio e longo-prazo” que projete “mais Europa”, com mais crescimento, mais emprego e mais justiça, e que faça “as pessoas sentirem que vale a pena mais Europa”.
Na sua intervenção, frente aos mais de 700 inscritos no congresso da UGT e naquela que foi a primeira participação de um Presidente da República numa reunião magna daquela central sindical, o chefe de Estado recordou que 2017 “tem vindo a ser vivido na Europa quase que em aflição constante, eleição após eleição, campanha após campanha, na expectativa de que as vozes da implosão europeia não vinguem”.
“E por cada resultado lisonjeiro há como que um alívio momentâneo, à espera do desafio seguinte, semanas ou meses volvidos”, descreveu Marcelo, considerando que “este modo de viver a União Europeia e na União Europeia não é aceitável”.
Para o Presidente da República, “não é aceitável que o normal em democracia - que são as eleições - passe a representar o pavor dos políticos e dos partidos” e “não é aceitável que a mobilização perante o ideal europeu seja apenas por causa das eleições e em cima das eleições”.
Também inaceitável é “que se olhe para o dia-a-dia em vez de se olhar para o médio e longo-prazo” ou que se considerem “as teses e as personalidades adversárias ou críticas como a causa e não como a consequência de apatias, de indiferenças, de atrasos, de displicências, de incompetências, de distanciamentos”.
“Não nos resignamos a uma União Europeia a crescer pouco, a deixar avolumar injustiças, a afastar-se das pessoas, a perder peso no mundo, a aparecer mais como passado do que como futuro. Queremos uma União Europeia unida, coesa, forte, moderna, avessa a radicalismos ditos populistas, a racismos, a xenofobias, a intolerâncias”, sustentou.
Neste contexto, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que cada país europeu deve, “à sua escala”, dar um contributo para o sucesso da Europa, sendo que no caso português “o grande desafio para os próximos dez anos é mais crescimento”.
“É essa a causa dos próximos dez anos: Crescermos claramente acima da fasquia dos 2%. Onde for possível haver convergências entre partidos, parceiros económicos, sociais e culturais, que elas se suscitem, fomentem, aprofundem. Convergências, consensos, concertações, não são sinal de fraqueza, são antes sinal de força descomplexada ao serviço de Portugal”, defendeu o Presidente da República.
E – acrescentou – “onde as diferenças democráticas acerca da vida, da sociedade ou da governação” tornarem “inviáveis” essas convergências, “que ao menos se não perca, de legislatura em legislatura, o que de essencial haja sido feito estruturalmente para o bem da pátria comum”.
Apontando a “notável capacidade de compreensão, de adaptação e mesmo de resistência” dos portugueses, particularmente demonstrada nos últimos anos de crise, o chefe de Estado considerou que estes “bem merecem que os seus sacrifícios sejam reconhecidos cá dentro e lá fora, nomeadamente pelas instituições europeias, relativamente à saída do processo de défice excessivo”.
E, frisou, a concretizar-se essa saída, “não se tratará da vitória de nenhum Governo, de nenhum presidente, de nenhum partido, de nenhum político, mas sim dos verdadeiros heróis desta saga: as portuguesas e os portugueses”.
Dirigindo-se depois aos novos órgãos sociais da UGT a eleger no domingo, o Presidente da República sublinhou que o seu mandato “vai coincidir com anos decisivos” para o mundo, para a Europa e para Portugal e instou-os a “continuar a ajudar a fazer mais e melhor Europa, mais e melhor Portugal”.
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