"Pode haver alternativas, mas serão sempre paliativas. Não é uma solução de maneira nenhuma que possa compensar o Portela+1 [a infraestrutura complementar do Montijo] a funcionar", disse Francisco Calheiros à Lusa.
Na quarta-feira, o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) disse não ver como viável esta medida porque afasta um dos polos de turistas mais importantes do país, a população do norte.
"Não conheço as declarações do senhor ministro [...] citadas por vocês, entendo-as como uma sugestão de desenvolvimento da operação turística de 'outgoing' [saída de turistas] à partida de Beja. Evidentemente que face aos constrangimentos que existem no aeroporto de Lisboa, os operadores turísticos portugueses já consideraram todas as hipóteses e mais alguma", começou por dizer o presidente da APAVT.
Antes, o ministro do Planeamento, Pedro Marques, tinha dito no parlamento que o Governo e a ANA - Aeroporto de Portugal vão desenvolver uma campanha junto dos operadores que oferecem pacotes turísticos integrados para usarem o aeroporto de Beja, sobretudo nos períodos de verão, quando a pressão sobre Lisboa é ainda maior.
Mas, para Pedro Costa Ferreira, "é absolutamente visível" que Beja tem, desde logo, dois problemas.
"Em princípio não é uma infraestrutura mais barata para a operação turística, é mais cara, o que é naturalíssimo - a tendência nos aeroportos é a de concentração e de consolidação, exatamente porque é um negócio de margens baixas -, mas mais do que isso, é uma infraestrutura de difícil relacionamento com a procura de Portugal, com os consumidores", explicou.
Para o presidente da APAVT, a principal dificuldade de Beja é a sua localização geográfica, que "afasta por completo o mercado consumidor nortenho" e este polo "é um dos mais importantes e para alguns destinos comprovadamente o mais importante" de operações turísticas portuguesas.
"Evidentemente que os consumidores nortenhos têm mais facilidade em fazer férias à partida de Vigo ou de Madrid se a alternativa for viajarem para Lisboa e depois mais um autocarro para Beja e depois mais um autocarro para Lisboa e depois voltar para o Porto, às vezes em operações que demoram um terço ou um quarto de voo do tempo que se demora a chegar lá", sublinhou.
Na quarta-feira, à saída de uma audição parlamentar, na qual abordou brevemente a questão, Pedro Marques acrescentou, aos jornalistas, a intenção de “desenvolver uma campanha junto dos operadores turísticos, que organizam viagens de ponto a ponto, integradas”.
“O que o Governo articulou com a concessionária, a ANA Aeroportos, e face ao esgotamento que se verifica no aeroporto de Lisboa faz todo o sentido que se procure promover aquela infraestrutura, nomeadamente no verão IATA (de final de março a final de outubro), quando temos mais dificuldades no aeroporto de Lisboa”, explicou.
Assim, em vez de focar atenção nas companhias e na “atratividade das taxas”, pretende-se oferecer a “atratividade da infraestrutura aos operadores que oferecem ofertas integradas, com um pico de procura no Verão”.
“Esperamos que isso possa induzir a procura daquela infraestrutura nos próximos anos e, em particular nos próximos verões”, disse o governante, notando “não ser realista que se possa influenciar neste verão, [...] mas pode influenciar muito a organização de operações nos próximos verões”, estimou.
Sem números do eventual alívio do aeroporto Humberto Delgado face a este desvio de tráfego, o ministro assinalou que qualquer operação em Beja “é importante porque a região vê aí um sinal de esperança” e porque é um “chamariz, é um primeiro momento de algo que pode ser maior e que pode crescer no futuro”.
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