“O Campo de Tiro de Alcochete é uma solução com futuro. O Montijo não tem futuro nenhum é a Portela + 2”, apontou Carlos Matias Ramos, que falava, em Lisboa, numa sessão pública organizada pela Plataforma Cívica Aeroporto BA6 Montijo Não!.
Para o também ex-presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), “o Montijo tem complicações tremendas do ponto de vista da engenharia”, bem como para a população e para os animais.
Conforme explicou o engenheiro, a base aérea número seis do Montijo tem apenas construída “uma linha que não recebe aviões pesados” e que “mal recebe os aviões da força aérea”, notando que não se trata de uma solução barata.
Durante a sua intervenção, Carlos Matias Ramos lamentou ainda que entidades como a gestora aeroportuária ANA – Aeroportos de Portugal fujam do debate sobre as consequências da construção desta infraestrutura.
“O Montijo tem [uma pista] com 2.187 metros de comprimento e preveem-se obras para mais 390 metros”, referiu o antigo responsável do LNEC, afirmando ainda que a pista “tem que ser alteada, numa zona que é de aterro”.
Já a nível do ruído, o Campo de Tiro de Alcochete afetaria cerca de 400 habitantes, enquanto a solução do Montijo entre 30.000 e 35.000, apontou.
Por sua vez, no que se refere ao futuro do Aeroporto Humberto Delgado (em Lisboa, também conhecido como aeroporto da Portela), o ex responsável do LNEC vincou que “tem que ser um objetivo nacional” tirar o aeroporto da Portela, sublinhando que não há nenhum aeroporto europeu situado no centro da cidade.
Presente na mesma sessão pública, o diretor da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Centro Hospitalar do Barreiro, Paulo André Fernandes, destacou o “prejuízo para a saúde das populações” que a nova infraestrutura vai provocar.
De acordo com este responsável, existe já um consenso de que os aeroportos causam impacto na saúde das populações, afirmando que, em último caso, estes provocam “morte prematura”.
Paulo André Fernandes lamentou ainda que no projeto deste novo aeroporto não estejam a ser consideradas consequências, já comprovadas por dados científicos, como o impacto no rendimento escolar e na felicidade dos habitantes.
A vice-presidente da associação ambientalista ZERO – Sistema Terrestre Sustentável, Carla Graça, indicou, por seu turno, que o processo associado à viabilização do aeroporto do Montijo não tem sido “nada transparente”, destacando ainda a “participação demolidora” que o último Estudo de Impacte Ambiental recebeu enquanto esteve em consulta pública, “com uma larga maioria de posições contra”.
Carla Graça alertou, à semelhança dos anteriores intervenientes, para as consequências ao nível do ruído e qualidade do ar que a infraestrutura vai provocar, acrescentando que já no aeroporto de Lisboa não tem sido respeitada a legislação sobre o ruído, nem o regime de exceção.
Já Duarte Caldeira, antigo presidente da Liga de Bombeiros, disse que, ao morar em frente ao LNEC, em Lisboa, constitui uma testemunha “do não cumprimento dos períodos de exceção” a nível do ruído, em Lisboa, posicionando-se também contra a opção do Montijo.
“É irresponsável colocar um aeroporto numa zona deste tipo […]. Constitui uma infração da lei informadora dos sistema de proteção civil e um largo desprezo pelos cidadãos. Sempre que se coloca em risco as pessoas, só tem um significado – a salvaguarda dos interesses que não são os da vida humana”, garantiu.
Assim, para Duarte Caldeira, a única solução é “continuar a lutar para inviabilizar esta irresponsabilidade”.
Em 08 de janeiro de 2019, a ANA e o Estado assinaram o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o atual aeroporto de Lisboa e transformar a base aérea do Montijo, na margem sul do Tejo, num novo aeroporto.
O aeroporto do Montijo poderá ter os primeiros trabalhos no terreno já este ano, depois da emissão da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) e da reorganização do espaço aéreo militar e após os vários avanços registados em 2019.
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