Em declarações à agência Lusa à margem de uma ação de campanha em Boulogne-Billancourt, nos arredores de Paris, Valérie Pécresse acusou o presidente dos Republicanos, Eric Ciotti, de ter traído os militantes do partido.

“Temos assistido a muitas traições nos últimos tempos, mas acho que os franceses devem saber que também há, na política, homens e mulheres que não traem e que mantêm os seus valores morais”, disse Pécresse, que é também a presidente da região de Île-de-France, que inclui Paris.

Questionada se acha que a direita tradicional ainda tem espaço para sobreviver após a coligação que o presidente do seu partido estabeleceu com a extrema-direita, Pécresse respondeu: “Claro que sim”.

A candidata presidencial dos Republicanos em 2022 – que foi eliminada na primeira volta, com 4,78% dos votos – aludiu às 378 candidaturas que foram apresentadas pela nova direção do partido – que recusou qualquer acordo com a extrema-direita – e que, segundo disse, “estão a crescer nas sondagens”.

“O problema é que estão a tentar tornar-nos invisíveis. Mas tenho a certeza de que, quando o país – e espero que não o faça – tiver experimentado os extremos, voltará muito rapidamente para os partidos de direita republicana”, disse.

Valérie Pécresse salientou que é a direita tradicional que tem as “boas soluções para o país”, defendendo que o sabe gerir e governar.

“Isso vê-se ao nível europeu, onde os populistas tentam, mas acaba sempre por ser a clivagem entre a direita e a esquerda a prevalecer: porque nós sabemos gerir e gerar consensos”, disse.

A ex-candidata presidencial falava à Lusa após ter participado numa reunião pública organizada pela campanha de Virginie Mahot, a candidata dos Republicanos no círculo eleitoral de Boulogne-Billancourt, que foi acompanhada por cerca de uma centena de pessoas.

Num breve discurso, Pécresse defendeu que é preciso que a direita tradicional “volte ao poder”, considerando que tanto a União Nacional como a Nova Frente Popular – uma coligação de vários partidos de esquerda – não apresentarão qualquer solução para responder aos problemas do país.

“Sei que, agora, pode parecer que estou a pregar no deserto, mas a resistência também começou com um punhado de pessoas”, afirmou, apelando a que os militantes do partido contrariem quem considera “um disparate votar na direita republicana”.

“Tenho a convicção profunda de que já estamos, hoje, a escrever a história do pós-Macron e que, para isso, é preciso que haja deputados que levem a voz da direita republicana à Assembleia Nacional e que sejam as sementes da nossa renovação”, disse.

A ex-candidata presidencial considerou que o voto na direita republicana “é o único que permite impor a Macron uma política de direita”, criticando o líder da União Nacional, Jordan Bardella, que considerou ser demasiado jovem para poder assumir o cargo de primeiro-ministro.

“Eu tenho filhos com a mesma idade que ele e são muito inteligentes, mas ele tem 28 anos… Com 28 anos vai tomar as rédeas do país? É isso que nos estão a propor. Precisamos de ousar algo diferente”, defendeu.

Nestas eleições legislativas, o presidente dos Republicanos, Eric Ciotti, decidiu unilateralmente coligar-se com a União Nacional, sem pedir o acordo da direção política do partido, que tem tentado destituí-lo, até agora sem sucesso.

No total, Ciotti apresentou 61 candidatos dos Republicanos no âmbito da coligação com a União Nacional, enquanto a direção nacional do partido apresentou outros 378, alguns dos quais nos mesmos círculos eleitorais que os da coligação firmada por Ciotti.