“O excesso pode tornar-se um problema. Nós vamos fazer esta avaliação dos elefantes (…) e já se começa a ter um impacto grande na vegetação, o que vai ter consequentemente impacto nas diferentes populações, incluindo a do elefante”, começou por explicar, em entrevista à Lusa, Miguel Gonçalves, o administrador do Parque Nacional de Maputo, a cerca de 70 quilómetros a sul da capital moçambicana.
Oficialmente, o censo da população realizada regularmente aponta para 400 elefantes naquele parque, mas a equipa técnica estima que sejam pouco mais de 500 na realidade, o que vai levar à revisão dos métodos de contagem e à definição, nos próximos meses, de um plano para a espécie no Parque Nacional de Maputo.
“Esta avaliação vai levar depois a que tenhamos um plano concreto para a gestão do elefante. Pode incluir coisas como, por exemplo, a contraceção, para reduzir a taxa de natalidade, para que o crescimento não seja tão grande como agora e a translocação, se possível, para outras áreas, entre outras medidas”, explicou, apontando a conclusão da definição deste plano para um prazo de três meses.
“Conceito temos, queremos é ir buscar números mais concretos, mas já estamos no terreno para ver a possibilidade de contraceção. Mas queremos ter números concretos para saber exatamente que investimento é que temos que fazer, que financiamento é que temos que ir buscar, porque não são operações baratas e é preciso saber exatamente com o que é que estamos a lidar”, assumiu.
A presença dos elefantes naquela área é histórica, o que motivou a criação de uma reserva de caça, em 1932. Antes, os elefantes daquela zona eram caçados por causa do marfim que, segundo a história, era depois enviado para a Europa, sobretudo a Inglaterra, a partir da Ilha dos Portugueses, ao largo de Maputo, e que se chegou a chamar, por isso mesmo, Ilha dos Elefantes.
“Em 1960, na altura acreditava-se que era uma subespécie de elefante, que era um elefante costeiro, e criou-se então a Reserva dos Elefantes de Maputo, que tinha o objetivo de proteção dos elefantes. Não só porque acreditava que poderia ser uma subespécie na altura, mas por causa do declínio que tinha sofrido a população de elefantes por causa da caça que houve”, recordou Miguel Gonçalves.
Durante os 16 anos de guerra civil, após a independência de Moçambique, o declínio do número de elefantes naquela área foi tal que se estima terem chegado a “menos de uma centena”.
“Mas a proteção que pusemos e o esforço de fiscalização, a população de elefantes cresceu naturalmente, ao ponto de que, em 2022/2023, translocámos mais de 40 elefantes. Estamos na posição de ter sucesso agora e poder doar para outras áreas de conservação”, sublinhou.
“A contagem aérea não nos parece nesta altura que seja eficaz. Temos muita floresta e com o barulho dos helicópteros os elefantes acabam por esconder-se. Temos outro problema porque os números estão a aumentar e eles começam a sair do parque para as zonas de residência das comunidades, o que causa conflito. E por isso também porque não só estamos a ter excesso de elefantes, estamos a ter excesso de outras espécies”, assumiu ainda.
Face a este crescimento, à comunidade local já foi concessionada uma área de quase 10.000 hectares, para “conservação comunitária ao longo dos limites” do parque, para que “possam ter benefícios destes excessos” de animais.
Ceder elefantes para outros parques ou áreas de conservação também está em cima da mesa, “sempre que solicitado”.
“E estamos disponíveis até para ver, possivelmente, mais áreas de conservação aqui ao nosso redor, privadas ou comunitárias, idealmente comunitárias, para que esse excesso seja movido para lá. Consequentemente, é um ganho em termos de proteção”, disse.
Comentários