Na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa falava no Real Gabinete Português de Leitura, instituição histórica e emblemática do Rio de Janeiro, antes da assinatura de dois acordos visando a preservação e reforço da cultura e da língua portuguesa.

Um dos acordos assinados prevê a entrega ao Estado Português da posse da imensa biblioteca do último chefe de Governo do Estado Novo, Marcelo Caetano, que na sequência da Revolução de 25 de Abril de 1974 se exilou primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro.

No seu discurso, António Costa referiu-se ao empenhamento do Presidente da República para a preservação do acervo de Marcello Caetano, que foi seu professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e amigo dos seus pais.

Mas a principal nota da intervenção do primeiro-ministro relacionou-se mais com a defesa da superioridade da democracia face a regimes totalitários, começando por assinalar que, em diferentes momentos da história, portugueses tiveram de pedir exílio no Brasil e brasileiros tiveram de se refugiar em Portugal.

"Que Portugal e o Brasil nunca mais sejam terra de exílio para ninguém. Este é o espólio da última geração de portugueses que teve de se exilar", declarou o primeiro-ministro, numa alusão a Marcello Caetano.

A Biblioteca de Marcello Caetano, após a falência da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, estava depositada num armazém em condições que colocavam em risco a sua preservação e, na sequência do acordo, passa agora para a guarda do Real Gabinete Português de Leitura.

Já em relação ao outro memorando de entendimento agora assinado, com a constituição da nova Associação Luís de Camões, o primeiro-ministro defendeu que, "pelo menos por 30 anos, fica garantida a perenidade das três instituições históricas do Rio de Janeiro: o Real Gabinete Português de Leitura, o Liceu Literário Português e a Real e Benemérita Caixa de Socorros D. Pedro V.

António Costa advogou mesmo que estas três instituições deverão ser a base para a promoção da língua portuguesa na América Latina.

"O Governo fez um enorme esforço em termos de avaliação no que respeita às necessidades financeiras. Mas este acordo representa a gratidão em relação à atividade de cada uma destas três instituições", declarou o líder do executivo.

O início da tarde do Presidente da República e do primeiro-ministro foi passado a bordo do Navio Escola Sagres, atracado no porto do Rio de Janeiro.

Depois do almoço, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, tiraram uma fotografia de grupo com toda a tripulação do navio.

A fotografia foi depois repetida para que se juntasse também a delegação de deputados que acompanha as comemorações do Dia de Portugal no Brasil.

Na zona do porto, a escassas dezenas de metros do Navio Escola Sagres, teve também lugar um almoço de portugueses e lusodescendentes, com churrasco, sardinha assada e uma escola de samba.

Tanto António Costa, como Marcelo Rebelo de Sousa, passaram nas imediações deste almoço para saudarem os cidadãos. E a descontração de Marcelo Rebelo de Sousa foi logo notada por populares brasileiros.

"Ai como eu gostava de ter um Presidente assim", desabafou uma senhora de meia idade no momento em que o chefe de Estado assistia à atuação de uma escola de samba.