“O nosso propósito era chegar aos 150 milhões em 2020 e acho que a este ritmo o conseguiremos”, afirmou a secretária-geral da Associação da Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP) em declarações à agência Lusa, destacando que este é “provavelmente o setor da economia portuguesa a crescer a uma velocidade maior em termos de exportações, não em valores absolutos, mas em percentagem”.
Segundo Fátima Santos, em 2017 Espanha ultrapassou a França enquanto principal mercado das vendas externas do setor, seguindo-se então a França, Hong Kong (plataforma de venda para todo o mundo), os EUA, Itália e Bélgica.
“Depois há alguns movimentos mais circunstanciais, como é o caso do Brasil, que entrou no ‘top’ cinco em 2017, mas que às vezes são investidas pontuais de algum cliente que faz uma compra maior, o que tem logo impacto nas estatísticas”, explicou.
De acordo com a responsável, os 100 milhões de euros de exportações atingidos no ano passado “significam muito” para um setor que “tradicionalmente funcionava para o mercado interno” e que “só nos últimos cinco/seis anos partiu para uma investida mais sustentada de internacionalização”.
“São ainda números muito pequenos, mas muito importantes para as nossas empresas”, afirmou, explicando que tem precisamente sido o crescimento das exportações que, nos últimos três anos, tem permitido manter estável, num valor “muito perto” dos mil milhões de euros, o volume de negócios do setor.
É que, disse, “as vendas no mercado nacional têm caído e estão a ser substituídas por exportações”, estando o setor “a exportar o que não vende no mercado nacional”.
No âmbito desta aposta nas exportações, a AORP acaba de lançar uma nova campanha de promoção internacional da joalharia portuguesa - intitulada “Portuguese Jewellery À La Carte” – cujo objetivo é “criar um formato de promoção paralelo ao das feiras”, mais “intimista”, e através do qual “se consegue transmitir mais eficazmente a essência e o universo de valores que distinguem a joalharia portuguesa, como a manualidade”.
Na quinta e sexta-feira, Macau será o ponto de partida da agenda de eventos de promoção internacional prevista no âmbito desta nova campanha num conjunto de mercados estratégicos, numa iniciativa a decorrer na Residência Consular de Portugal (Antigo Hotel da Bela Vista) e que conta com o apoio institucional do Consulado Português e a participação especial da Rota da Filigrana de Gondomar.
No total, serão sete as marcas em exposição no evento, representando “a essência da joalharia portuguesa, numa fusão entre a tradição da arte e da técnica e a sofisticação do ‘design’ contemporâneo”.
Prevista está uma demonstração ao vivo de filigrana portuguesa, em parceria com a Rota da Filigrana, numa iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Gondomar, cidade berço da ourivesaria portuguesa e onde se preservam grande parte das oficinas do país.
“Macau era já um desejo antigo. Não só pela ligação histórica e cultural que nos une, mas também na sequência de várias participações de sucesso numa das maiores feiras de joalharia do mundo, em Hong Kong, sendo a China um dos nossos mercados-alvo”, explicou à Lusa a secretária-geral da AORP.
Segundo Fátima Santos, “a China revelou-se interessante porque, apesar daqueles chavões de produto massificado, de copiadores e de baixo preço e baixa qualidade, o setor está a fazer vendas para galerias e lojas de posicionamento muito elevado de Xangai e da China continental, que procuram um produto de excelência e encontram-no no mercado português”.
Os planos da associação passam depois por replicar este modelo em França, um dos principais mercados de exportação do setor, nos EUA (onde tem também em curso “uma investida interessante”), na Holanda e em Espanha.
“Sentimos que há esta necessidade porque o mundo está a mudar e as feiras cada vez mais resultam menos. São momentos mais difíceis, que requerem investimentos muito grandes e têm uma lógica mais passiva, de esperar pelo contacto do comprador, e muitas vezes o sucesso de uma empresa é determinado por um comprador que conseguiu seduzir num ambiente mais intimista através de uma abordagem direta ao consumidor final”, afirmou a responsável.
Segundo a mais recente monografia do setor, em 2014 existiam mais de 4.200 empresas de joalharia, ourivesaria e relojoaria em Portugal, responsáveis por quase 11.000 empregos, “predominando claramente as microempresas” e destaca-se uma “forte clusterização da fabricação da joalharia na região Norte”, sobretudo, nos polos de Gondomar, Póvoa de Lenhoso e Guimarães.
Em termos de mercado, era notória uma “forte concentração na área Metropolitana de Lisboa, seguida de perto pela Área Metropolitana do Porto”, que, juntamente com as NUTS 3 do Cávado, Aves e Tâmega e Sousa, representavam 78% do mercado nacional.
O grosso das empresas, do emprego, do volume de negócios e do valor acrescentado estava concentrado sobretudo no comércio a retalho, “traduzindo o facto de Portugal ser importador líquido dos produtos de joalharia, ourivesaria e relojoaria”, sendo a segunda atividade mais importante a da fabricação de joalharia e ourivesaria.
Comentários