“Os riscos fiscais das empresas públicas permanecem muito altos e a alta exposição do setor financeiro essas empresas é um risco para a estabilidade financeira”, disse o economista Thibault Lamaire em entrevista à Lusa, à margem dos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, que decorreram esta semana em Marraquexe.
Para este economista do departamento africano e um dos autores do relatório sobre as Perspetivas Económicas Regionais para a África subsaariana, “as reformas nas empresas públicas através de despesas de capitalização, empréstimos e garantias, são uma condição necessária para preservar a sustentabilidade fiscal” do arquipélago, cuja economia continua demasiado dependente do turismo e com uma dívida pública elevada.
“Cabo Verde continua vulnerável aos choques económicos e climáticos, com a economia altamente dependente do turismo como fonte de crescimento e para receitas de exportação e fiscais”, disse Lamaire, acrescentando que “a falta de diversificação implica que a economia é vulnerável a uma desaceleração significativa nos principais mercados de origem do turismo ou a perturbações relacionadas às viagens no setor do turismo”.
Na entrevista à Lusa, o economista defendeu que o país precisa de “manter a disciplina fiscal e continuar a implementar as reformas económicas que permitam aumentar a produtividade da economia, o que permitirá consolidar os ganhos obtidos até agora em termos de estabilidade económica, resiliência e crescimento inclusivo”.
Sobre a dívida pública, que é a mais elevada da África subsaariana em relação ao PIB, mas sem grandes problemas de sustentabilidade por ser maioritariamente concessional, ou seja, com taxas de juro muito baixas, Lamaire diz que, ainda assim, o risco continua elevado.
“Embora a relação da dívida pública sobre o PIB tenha diminuído para 123,1% em 2022 em relação ao seu pico de 147,1% em 2021, essa relação da dívida pública sobre PIB é ainda elevada”, afirma o economista, prevendo uma diminuição do rácio para 112,5% no final do ano.
Apesar do risco de uma situação crítica da dívida externa causada pelo excesso de endividamento ter sido diminuído de alto para moderado em julho de 2022, “o risco geral da dívida pública ainda permanece alto, e há pouco espaço para a dívida pública sofrer choques adicionais, como demonstram os testes de stress e na análise de sustentabilidade da dívida”, conclui Lamaire.
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