"Não se trata de extrema direita, mas de um sentimento comum. Os extremistas são aqueles que governaram a Europa nos últimos 20 anos", declarou Salvini no palco montado na Piazza del Duomo.

Faltando uma semana para as eleições europeias, Salvini e a sua principal aliada, Marine Le Pen, líder do Rassemblement National (RN, ex-Frente Nacional), tentam construir uma aliança de extrema direita com cerca de 12 formações visando tornar-se a principal força política no Parlamento Europeu.

"Não queremos esta União Europeia que alimenta uma globalização selvagem, sem regras, que faz trabalhar escravos para vender mercadorias a desempregados", disse a líder da extrema-direita francesa.

A grande manifestação conta com a participação de delegações da Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Eslováquia, Estónia, Finlândia, França, Holanda e República Checa.

A internacional ultraconservadora está, no entanto, muito dividida, porque entre as suas formações existem grandes divergências sobre questões como orçamento ou a distribuição dos migrantes na UE.

A renúncia que ocorreu hoje, do vice-chanceler austríaco Heinz-Christian Strache, sob suspeita de corrupção, também caiu como uma balde de água fria e ameaça comprometer a imagem da extrema-direita europeia.

O principal objetivo é assegurar que o grupo Europa das Nações e das Liberdades (ENL) se torne a terceira força do Parlamento Europeu, contando com a Liga Norte, o RN, o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) e o flamenco Vlaams Belang, para, assim, superar os liberais.

Salvini, vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, multiplicou os seus comícios eleitorais nas últimas semanas. "Dêem-nos uma mão para que nos possamos tornar a primeira força na Europa e recuperar as chaves de nossa casa. As eleições europeias são um referendo entre a vida e a morte, entre passado e futuro, entre uma Europa livre e um Estado Islâmico baseado no medo", exclamou o italiano, que acusou todos os abstencionistas de serem "cúmplices" de Angela Merkel, Emmanuel Macron e George Soros.

"A Europa será forte se as suas nações forem fortes", sustenta Le Pen, defensora, como Salvini, de uma "Europa de nações e cooperação", em vez de uma União Europeia federalista.

"Irrealizável"

Milhares de simpatizantes viajaram à capital financeira da Itália para marchar até a Piazza del Duomo, famosa pela sua catedral gótica, onde também discursou Wilders, líder do Partido pela Liberdade (PVV) holandês. "Basta o Islão, basta o Islão", gritou várias vezes o líder holandês, famoso por suas posições islamofóbicas.

O jornal italiano La Repubblica estima que Salvini pode obter um bom resultado nas eleições, mas reconhece que há muitas dúvidas sobre a sua liderança ao nível do Parlamento Europeu, uma vez que considera "irrealizável" uma aliança internacional de várias formações soberanistas.

"Os primeiros a fechar a porta a Salvini foram precisamente aqueles que a Liga considerava os seus interlocutores: a direita austríaca, bávara e finlandesa", lembra o jornal.

As diferenças, de facto, são muitas. Pesa muito o relacionamento com a Rússia, já que tanto Le Pen como Salvini são considerados próximos a Moscovo, enquanto os partidos nacionalistas dos antigos países comunistas são alérgicos a essa ideia.

Para Sven Giegold, que lidera a lista dos Verdes na Alemanha, uma aliança entre Matteo Salvini e George Meuthen, líder do Alternativa para a Alemanha (AfD), que confirmou a sua presença em Milão, é "totalmente impossível". "Salvini quer a redistribuição de refugiados na Europa. Meuthen não quer receber nenhum e não quer dar dinheiro para a Europa do Sul", explicou Giegold à agência de notícias AGI.

Salvini reconhece essas divergências em voz baixa, embora as minimize. "Com novos resultados no Parlamento Europeu e novos equilíbrios na Comissão, poderemos mudar as regras que estrangulam a economia", disse ele à imprensa na sexta-feira, após defender uma maior flexibilidade orçamentária.

De acordo com as sondagens mais recentes, a Liga obteria 26 deputados para o Parlamento Europeu, mais 20 do que atualmente, o RN chegaria a 20 (+5) e o AfD a 11 (+10).

Outros partidos, alguns pequenos e com poucas hipóteses, como o Volya búlgaro ou o eslovaco Sme Rodina, conseguiriam um assento. Todos participarão na grande marcha milanesa.

Há, contudo, ausências de vulto. O primeiro-ministro húngaro, o ultraconservador Viktor Orban, não estará presente já que recusa qualquer aliança com Le Pen. O Partido da Lei e da Justiça da Polónia também não será representado, outra importante deserção.

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