"Sabe-se que aproximadamente um terço dos alimentos produzidos no mundo, para consumo humano, são desperdiçados em toda a cadeia de abastecimento, desde a produção", indicou Vera Miguéis, professora auxiliar do Departamento de Engenharia e Gestão Industrial da FEUP e uma das responsáveis pelo projeto.
Segundo indicou à agência Lusa, as cantinas "não apresentam uma realidade muito diferente", visto que uma parte significativa dos alimentos produzidos não é consumida.
Apesar de a grande maioria do excedente de refeições ser doado, continuou a professora, há uma parte das refeições que, dada a regulamentação, não pode ser doada.
O projeto Desperdício 0 na cantina da FEUP, visa, assim, minimizar o desperdício alimentar naquela faculdade, promovendo um alinhamento entre a quantidade confecionada de comida e a procura de cada prato, em cada dia, através de um modelo matemático.
Segundo Verá Miguéis, esse modelo matemático é um algoritmo que se baseará em dados históricos, nomeadamente a procura de cada prato em cada dia, para identificar os fatores que afetam o consumo, como é caso das condições meteorológicas, dos horários dos estudantes e das características dos pratos.
"Depois de termos um modelo que apresente níveis de performance preditiva elevados, poder-se-á avançar com a implementação do modelo numa plataforma de apoio à gestão das operações do responsável da Cantina de Engenharia", indicou.
Além do desperdício alimentar, se for considerada “toda a energia, água e embalagens envolvidas no processo de produção, transporte e entrega ao consumidor, o contributo do projeto fica ainda mais claro", visto que permite uma gestão mais eficiente de todos os recursos que intervêm no processo, acrescentou.
A ideia para esta iniciativa surgiu a partir da vontade de Vera Miguéis em aplicar os conhecimentos de ‘data analytics' a um contexto real, com um "impacto societal que fosse considerável".
"Sempre tive a minha consciência ecológica e ambiental bem desperta, de forma que a ideia de conjugar dois temas que me interessam acabou por ser algo natural", a par com o foco constante "na otimização e na redução de desperdícios (seja de que índole for)", salientou.
A professora acredita que este projeto pode vir a ser estendido a outras unidades orgânicas da Universidade do Porto, nas quais a gestão das cantinas seja feita pelos Serviços de Ação Social da U.Porto (SASUP), tal como acontece na cantina da FEUP.
"Acredito ainda que, inspiradas por esta ideia, outras entidades, como restaurante e refeitórios empresariais, poderão vir a procurar o nosso apoio no sentido de desenvolver modelos com objetivos semelhantes", disse ainda.
Este projeto, em fase de desenvolvimento, está a ser criado em parceria com Diogo Xavier Pereira, estudante do 5.º ano do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação, contando ainda com o apoio dos Serviços de Ação Social da U.Porto (SASUP).
O projeto venceu a 2.ª edição do Concurso Mais Ideias Sustentáveis 2017, que decorreu a 15 de janeiro e foi promovido pelo Comissariado para a Sustentabilidade da FEUP, tendo como objetivo sensibilizar e implementar ideias relacionadas com o desenvolvimento sustentável.
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