“O Pinhal de Leiria está sujeito a que aconteça um cataclismo enorme por falta de limpeza e de tratamento, que poderá provocar um incêndio que irá destruir a maior parte do Pinhal de Leiria”, avisa Gabriel Roldão, 81 anos, estudioso do Pinhal de Leiria há mais de quatro décadas.
O também autor do livro "Elucidário do Pinhal do Rei", lançado em março deste ano, conta que “deixou de existir a ação conservadora do Pinhal de Leiria”, propriedade do Estado, com 11.080 hectares, dividido em 342 talhões e que tem como espécie principal o pinheiro-bravo.
“A manutenção, a limpeza, o tratamento das árvores, a iluminação, nada disso se faz. Os 152 quilómetros de estradas que existem [na mata], não se faz a manutenção. Extinguiram os guardas florestais e agora ninguém faz o policiamento. Quem quer entra de carro, de jipe, destrói e não tem problema rigorosamente nenhum”, critica o investigador.
O escritor pede ao Estado que limpe, preserve e cultive, que é o que exige aos particulares.
Em resposta escrita enviada à Lusa, o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural explica que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) “executa anualmente ‘operações de limpeza’ numa área considerável da mata, sendo que, dada a sua extensão, não é tecnicamente adequado executar estas ações em larga escala”.
Gabriel Roldão denuncia ainda que o ordenamento da mata “está a ser pervertido” em termos de exploração, sendo esta mais uma falha que aponta à gestão feita pelo Estado português.
“Também pelo facto de a administração florestal não cuidar da exploração do pinhal, de acordo com as normas que eram antigamente adotadas, acontecerá que, não tardará muito, se houver um incêndio, o Pinhal de Leiria se vá extinguindo pouco a pouco", sustenta o investigador.
Empresário reformado, Gabriel Roldão classifica de “extremamente negativo” o tipo de exploração levado a cabo nos últimos 15 anos, que tem “prejudicado” a mata em termos de segurança, de crescimento e de desenvolvimento, e dá um exemplo concreto.
“A exploração não tem hipóteses de ter a continuidade para que foi edificado este pinhal. Em 2003, arderam aqui 2.500 hectares (ha) que não foram semeados. O que tem crescido, cresce ao sabor da natureza e não vai ter os crescimentos nem o ordenamento que se previam”, antevê Gabriel Roldão.
Na resposta escrita, o ministério esclarece que a “rearborização da área ardida se concretizou através do aproveitamento da regeneração natural, (com intervenções em 2007, 2008, 2010 e 2011 em cerca destes 500 ha) pelo que não foi necessário recorrer à plantação”.
Contudo, a Lusa constatou que, 14 anos após o incêndio que consumiu 22% da área total da mata, em muitos destes hectares são visíveis zonas descampadas, sem árvores, com pinheiros com dois a três metros de altura ou áreas cobertas de vegetação selvagem e rasteira.
Para o ciclo de 2017/2018 estão aprovados investimentos, no âmbito do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, superiores a 1.600.000 euros para uma área de intervenção de 1.631 ha, revela o ministério.
Quanto às receitas provenientes do pinhal, Gabriel Roldão reconhece que são “muito menores do que há uns anos”, lamentando que não sejam aplicadas na mata, questionando o presidente do ICNF sobre o destino dado ao dinheiro.
“Ele sabe que essas receitas são conduzidas para outras matas nacionais que não produzem receita nenhuma, para garantir o estabelecimento dessas matas e, muito especialmente, esses dinheiros vão para o projeto de proteção do lince ibérico”, refere o investigador.
A Lusa perguntou ao Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural para onde é canalizado o dinheiro que provém dos rendimentos do Pinhal de Leiria, mas não obteve resposta.
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