O que aconteceu no bairro do Talude?
A associação Habita denunciou hoje em comunicado divulgado por volta das 11:00 que sete famílias iam ser despejadas no bairro do Talude, Catujal, porque a Câmara Municipal de Loures ia demolir as suas casas.
Segundo a associação, a autarquia não tinha apresentado “qualquer alternativa de habitação adequada” e iria mandar “para a rua várias famílias com crianças”.
De acordo com a Habita, em causa estavam cinco agregados familiares, “com mulheres chefes de família que cuidam sozinhas dos filhos”, incluindo-se no grupo “uma mulher grávida doente” que aguarda vaga para uma operação cardíaca, além de “um senhor idoso e muito doente, e também cinco menores de idade e dois recém-nascidos”.
“A maioria são pessoas desempregadas em situação de procura de emprego. Mas há também mulheres empregadas formalmente cujo rendimento não é suficiente para aceder a uma habitação”, refere a nota da associação.
Como é que esta notícia foi recebida?
Segundo a Habita, várias organizações estiveram presentes no local a opor-se “à barbárie do sistema que apenas defende a propriedade e o lucro e atira as pessoas para situações cada vez mais insustentáveis de pobreza e para a rua”.
“Este é o país que voltou a atirar as pessoas para situações em que não lhes resta outra opção que não a construção de barracas”, pode ler-se na nota, que acrescenta que as famílias do bairro do Talude, “como todas as pessoas, têm de ter acesso a uma habitação adequada, não são elas as responsáveis de viverem numa barraca, mas as políticas que incentivam à inacessibilidade da habitação”.
“Enquanto o governo nos entretém com o lançamento caótico e atabalhoado de medidas para habitação que falham redondamente por não abordarem os problemas fundamentais e as causas da crise de habitação, nem criarem medidas imediatas de estancamento da crise, os despejos e a emergência habitacional continuam a fazer-se sentir, e as pessoas são atiradas para a rua pelo próprio Estado”, denunciava a Habita.
As habitações foram demolidas?
Numa primeira fase, não: as famílias "puseram-se à frente das máquinas e não as deixaram avançar". Logo depois, a Câmara de Loures garantiu que as demolições de construções ilegais iriam acontecer e que as famílias visadas — oito, segundo a autarquia — têm os seus casos analisados pela Segurança Social para um abrigo de emergência.
Cerca das 14:25 uma das barracas ilegais já tinha sido demolida, indicou à agência Lusa Maria João Costa, da associação Habita.
Nessa altura, foi referido que estava em curso "a destruição da segunda barraca" e que os pertences das pessoas foram colocados “à chuva” pelos funcionários da câmara, enquanto as máquinas avançavam sobre os “20 metros quadrados onde as pessoas tinham toda a sua vida”.
Nessa altura, houve um reforço das autoridades, com a chegada ao local de “dois batalhões de polícia de choque”.
Afinal, o que levou a estas demolições?
“A Câmara Municipal de Loures está a levar a cabo a demolição de oito construções ilegais na localidade do Catujal, oito famílias que foram devidamente analisadas e encaminhadas para os serviços da Segurança Social, oito famílias que residem há meses naquele local e que construíram aquelas barracas”, começou por explicar à Lusa a vice-presidente da autarquia, Sónia Paixão.
De acordo com a responsável, a ação insere-se na política de habitação que o executivo municipal está a levar a cabo “de grande fiscalização no território de forma a não permitir a construção de novas habitações desta índole”.
Sónia Paixão referiu que os casos foram “devidamente assinalados há mais de uma semana e providenciados os mecanismos de apoio existentes”, a cargo da Segurança Social que é quem tem a responsabilidade de abrigo de emergência, de acordo com a responsável.
Sónia Paixão acrescentou também que “dos oito, há dois casos que estão a ser analisados cumulativamente pelos serviços da câmara porque cumprem, eventualmente, requisitos à luz do regulamento de habitação”, apesar de agora poderem ser acolhidos num abrigo de emergência.
Para onde vão as pessoas desalojadas?
Ainda não há grandes respostas. Segundo a responsável da Habita, durante a manhã foram ao local técnicas da Segurança Social que questionaram as pessoas se aceitavam ir para um abrigo temporário.
“Eu ouvi uma dessas conversas e, quando a pessoa perguntou onde seria, a técnica respondeu-lhe que ainda não sabia, dependeria das vagas”, afirmou, criticando o facto de que “com o despejo marcado para hoje, a Segurança Social, ainda não sabe onde vai alojar as pessoas”.
*Com Lusa
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