Num comunicado divulgado nas redes sociais, o festival salientou a sua “firme condenação” e “total apoio” a Alidoosti que, segundo os meios de comunicação iranianos, foi detida sob a acusação de incitar à agitação no seu país.

De acordo com essas informações, a atriz foi detida por as autoridades terem considerado que Alidoosti publicou conteúdos falsos e deturpadores, assim como por alegadamente ter promovido motins e apoiado movimentos que o governo de Teerão apelida de “anti-iranianos”.

“Em solidariedade com a sua luta pacífica pela liberdade e pelos direitos das mulheres, o Festival de Cannes manifesta o seu total apoio”, assinalou o festival de cinema francês.

Taraneh Alidoosti (Teerão, 1984) ganhou vários prémios ao longo da sua carreira e foi a estrela do filme “O Vendedor” (“Forushandeh” em Persa), realizado em 2016 pelo seu compatriota Asghar Farhadi, vencedor do Óscar de Melhor Filme Internacional.

Em julho passado, o Festival de Cannes já tinha pedido a libertação de três cineastas iranianos detidos no seu país: Mostafa Aleahmad, Mohammad Rasoulof e Jafar Panahi.

No início de novembro, Taraneh Alidoosti juntou-se ao movimento de protesto que tem crescido no Irão desde a morte de Mahsa Amini, em 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida pela policia dos costumes, por violar o rigoroso código de vestuário das mulheres da República Islâmica.

A atriz prometeu ficar e “pagar o preço” necessário para defender os seus direitos e anunciou a sua intenção de deixar de trabalhar para apoiar as famílias dos mortos ou presos na repressão exercida pelas forças de segurança para travar os protestos.

“Eu fico aqui e não tenho intenção de sair”, disse a atriz de 38 anos numa publicação no Instagram, quando milhares de pessoas, incluindo figuras da cultura, já tinham sido detidas na repressão dos protestos.

Esclarecendo não ter qualquer passaporte, além do iraniano, nem residência no estrangeiro, a conhecida atriz e ativista dos direitos das mulheres e dos direitos humanos no Irão prometeu então ficar “ao lado das famílias dos prisioneiros e dos mortos”, lutar pela pátria e “pagar o preço” que fosse preciso “para defender” os seus direitos.

“Acima de tudo, acredito naquilo que estamos a construir hoje em conjunto”, acrescentou, na altura, Taraneh Alidoosti.

No sábado passado, dia 17 de dezembro, as autoridades iranianas detiveram-na, acusando-a de espalhar falsidades sobre os protestos.

Esta detenção surgiu uma semana depois de Taraneh Alidoosti ter divulgado na rede social Instagram uma mensagem a expressar a sua solidariedade para com um homem de 23 anos recentemente executado por alegados crimes cometidos durante os protestos no país.

De acordo com os ‘media’ estatais, Alidoosti foi detida por não ter apresentado “nenhum documento que comprovasse as suas denúncias”.

“O seu nome era Mohsen Shekari. Cada organização internacional que assiste a este derramamento de sangue e não age é uma vergonha para a Humanidade”, escreveu a atriz, na mensagem publicada no Instagram, sobre o jovem executado.

Shekari foi morto em 09 de dezembro, após ter sido acusado por um tribunal iraniano de bloquear uma rua em Teerão e por ter atacado, segundo as autoridades, um membro das forças de segurança com uma faca.

Logo após a detenção de Taraneh Alidoosti, celebridades e grupos de defesa dos direitos humanos começaram a apelar ao regime iraniano para que liberte a atriz e ativista.

A detenção de Taranaeh Alidoosti foi denunciada por várias organizações de defesa dos diretos humanos como o Centre for Human Rights in Iran (CHRI), sediado em Nova Iorque, que declarou que “mulheres estão a ser presas e encarceradas no Irão por se recusarem a usar o hijab obrigatório, incluindo atrizes famosas como Taraneh Alidoosti”.

“O poder das vozes das mulheres aterroriza os governantes da República Islâmica”, afirmaram responsáveis por aquela organização, citados pela AFP.

“Taraneh Alidoosti é uma das atrizes mais talentosas e reconhecidas do Irão. Espero que ela seja libertada brevemente para continuar a representar a força do cinema iraniano”, escreveu a realizadora do Festival de Cinema de Toronto no Canadá, Cameron Bailei.

A atriz protagoniza “As irmãs de Leila”, filme de Saeed Roustayi, em exibição nas salas portuguesas, assim como “O vendedor” e “À procura de Elly”, ambos de Asghar Farhadi, também estreados em Portugal.

Hengameh Ghaziani e Katayoun Riahi, outras duas atrizes famosas no Irão, foram igualmente detidas pelas autoridades por expressarem solidariedade com os manifestantes, em mensagens nas redes sociais, tendo já sido libertadas.

O Irão tem sido abalado por protestos desde a morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, que se transformaram num dos mais sérios desafios ao regime teocrata do Irão, instalado pela Revolução Islâmica de 1979.

Nestes três meses de protestos, que têm sido fortemente reprimidos pelas autoridades iranianas, mais de 500 pessoas já foram mortas e pelo menos 15.000 foram detidas, segundo a organização não-governamental (ONG) Iran Human Rights.