“Não há como voltar atrás”, disse à Lusa Minna Holopainen, diretora de informação da agência noticiosa finlandesa STT. “Se a Finlândia agora recuasse, a Rússia interpretá-lo-ia como uma vitória e a NATO jamais o entenderia”.
E acrescenta: “se a invasão da Ucrânia pela Rússia não é um bom motivo para essa decisão, o que poderá ser”?
A mesma questão foi colocada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros Pekka Haavisto (membro do partido dos Verdes), que afirmou numa entrevista ao canal de televisão YLE Ykkkösaamu que “a opção da NATO tornar-se-ia mais teórica e o seu limiar demasiado grande se não fosse esta a circunstância em que a utilizamos”.
Para os finlandeses, a Rússia sempre teve como objetivo estratégico a não entrada na NATO da Finlândia, assim como da Suécia, e as boas relações económicas bilaterais construídas ao longo dos anos demonstraram-no.
Mas agora, diz Minna, os dois países estão efetivamente a discutir e a planear essa adesão: “não vamos esperar que nos ataquem, pois não”?
Por outro lado, a suposta neutralidade da Finlândia também já não existe, a partir da altura em que o país aderiu à União Europeia e à parceria para a paz da NATO.
Há 20 anos, o governo de então chegou mesmo a elaborar um plano contemplando a opção de adesão, no caso da situação de segurança no país se alterar.
A invasão russa da Ucrânia provocou precisamente essa mudança no panorama de segurança do país e da Europa, razão que levou o governo finlandês a adotar a 13 de abril um relatório sobre o assunto e a submetê-lo ao Parlamento para consideração, embora sem formular conclusões.
O consenso favorável da população, segundo as sondagens, e da maioria dos partidos não implica que os finlandeses não estejam cientes das ameaças de que podem ser alvo por parte da Rússia, como já preveniram as próprias autoridades russas.
Uma crise de refugiados na fronteira, tal como aconteceu este Inverno na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, ciberataques ou outros ataques híbridos, cortes no fornecimento de energia, ou uma “guerra” de desinformação são algumas das ameaças de que a Finlândia está à espera.
O que aparentemente a Finlândia não quer é um futuro estacionamento de tropas da NATO ou armas nucleares no seu território. Para isso acontecer, o Governo finlandês teria de dar o seu acordo, o que seria muito discutível, segundo os comentadores.
Se, para a Finlândia, a adesão à NATO será uma garantia de maior segurança, ao passar a estar ao abrigo da cláusula 5ª [permite a defesa coletiva em caso de ataque a um Estado-membro], a presença de tropas ou de armas nucleares no seu território passa a torná-la num alvo, enfraquecendo a sua defesa, explica Minna Holopainen.
O problema poderá ocorrer no período até à efetiva adesão, só concretizada depois de aprovada pelos parlamentos de todos os países membros da NATO. A Finlândia terá de confiar nas suas capacidades de defesa nacional e, eventualmente, na ajuda prestada individualmente pelos Estados da organização.
A Finlândia tem um exército de 280 mil efetivos e conta com cerca de 900 mil reservistas.
A eventual adesão do país à organização atlântica tem vindo a ser debatida desde o início do ano, quando as movimentações militares da Rússia na fronteira da Ucrânia começaram a ser claras, e incentivou-se com a invasão russa, a 24 de fevereiro.
As sondagens registam um apoio crescente da população a favor da adesão, atingindo 62%, de acordo com os últimos números publicados na imprensa. Em 2017, os votos favoráveis não iam além dos 19%, segundo o Instituto Yle.
Da sociedade a discussão saltou para o Parlamento, cujo relatório estará pronto em meados de maio, segundo anunciou na quarta-feira o presidente do Parlamento finlandês, Matti Vanhanen, numa conferência sobre os desafios de segurança, organizada pelo Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais (FIIA).
Depois, Governo e Presidente da República terão de decidir. O objetivo, disse Vanhanen, é que o pedido de adesão possa ser entregue ainda em maio na NATO, de modo que possa já ser discutido na cimeira da organização em junho, em Madrid.
Na Finlândia, é ao Presidente que compete a condução da política externa, em conjunto com o Governo, mas este Presidente, Sauli Niinistö, tem feito questão de marcar essa iniciativa. Por decidir está ainda se no Parlamento bastará uma maioria simples ou de dois terços.
Na vizinha Suécia — com quem a Finlândia gostaria de aderir à NATO conjuntamente — a discussão também se reacendeu, se bem que o processo esteja mais atrasado e o consenso na sociedade seja menor.
Seja como for, “a história não acabará se a Finlândia e a Suécia entrarem para a NATO”, tal como afirmou na citada conferência o diretor do Instituto, Mika Aaltola.
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