Nos dois últimos anos, a investigadora Isabel Leite analisou os cursos de formação inicial de professores atualmente em vigor para perceber “Como estão a ser preparados os futuros professores para o ensino da leitura e da escrita?”.

Em declarações à Lusa, a investigadora revelou que há áreas que precisam ser melhoradas para garantir um ensino mais eficaz.

“Podemos melhorar ainda bastante a preparação dos professores para o ensino da leitura e da escrita. Há áreas onde essa preparação parece estar a ser bem assegurada, mas há outras onde há margem para essa melhoria”, disse em entrevista à agência Lusa a investigadora e membro do Conselho Consultivo do Edulog.

Um dos problemas detetados foi o pouco contacto que os futuros professores têm com turmas de diferentes anos letivos, com alunos com diferentes níveis de dificuldades de aprendizagem e até com realidades distintas em ambiente de sala de aula.

“Muitos alunos (futuros professores) apenas têm oportunidade ao nível da licenciatura de contactar com uma turma de um determinado ano. Depois, quando fazem o percurso de estágio, isso volta-se a repetir. Não é garantido que ao longo de toda a formação, quer ao nível de licenciatura quer ao nível de mestrado, os futuros professores tenham contacto com os alunos do 1.º ciclo nos diferentes anos de escolaridade, nas diferentes etapas, e que tenham experiência de ensinar nas diferentes fases do processo de aprendizagem”, disse.

Foram também identificadas falhas “para trabalhar com alunos que exibem dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita”, acrescentou a docente da Universidade de Évora.

A maioria dos cursos de licenciatura e mestrado não incluem nos seus programas as dificuldades específicas de aprendizagem da leitura e da escrita, lê-se no estudo a que a Lusa teve acesso.

A especialista recordou que ainda existem “muitos alunos com desempenhos muito fracos ao nível da leitura e da escrita e os professores tem de estar preparados para ensinar todo este conjunto de alunos e têm de ter experiência de contacto e de trabalho com alunos com diferentes níveis de desempenho”.

Cerca de 20% dos alunos das escolas portuguesas têm sérias dificuldades ao nível da leitura, um valor semelhante ao registado noutros países, sublinhou Isabel Leite.

“Se queremos que os nossos alunos tenham melhores desempenhos na leitura e tenham mais hábitos de leitura esta é uma das áreas por onde temos de começar. Uma boa preparação dos professores ao nível de todas as instituições de ensino superior é uma forma de abordar o assunto de modo sistémico, que terá influencia ao nível da aprendizagem dos nossos alunos”, defendeu.

Uma das recomendações do estudo é garantir que os futuros professores têm a possibilidade de contactar “com os diferentes níveis de escolaridade, porque um professor que está a ser preparado para o 1.º ciclo tanto vai lecionar um 1.º ano, como um 2.º, 3.º ou 4.º ano de escolaridade”.

Isabel Leite defendeu que os professores têm de estar preparados para lecionar os diferentes anos de escolaridade, crianças com diferentes níveis de desempenho e estarem aptos tanto a trabalhar com uma turma como com grupos mais individualizados.

Outro dos problemas identificados prende-se com o facto de os planos de estudos dos vários cursos parecerem ignorar algum do trabalho cientifico internacional que tem sido feito na área da educação.

Nas leituras indicadas como obrigatórias das unidades curriculares há menos artigos científicos e manuais publicados em revistas ou editoras internacionais e “não parecem existir livros de referência no domínio da psicolinguística”, refere o estudo, que é hoje apresentado na conferência internacional “Teatcher Education – Building na agenda for the 21st Century”.

Ensinar a ler e escrever é uma missão “complexa que exige uma preparação aprofundada e sólida dos professores”, lembrou a investigadora e membro da Edulog.

Para a investigadora é importante “discutir e identificar de forma muito clara quais são os conhecimentos e as competências que os professores têm que necessariamente dominar para ensinar a ler e escrever de forma eficaz e, a partir dai, fazer a devida atualização e garantir que todos esses conhecimentos são assegurados e objeto de avaliação ao longo da formação inicial”.

O estudo hoje divulgado começou a ser elaborado em 2020 e foi concluído este ano, entre fevereiro e março, depois de analisadas os cursos de 20 licenciaturas e 40 mestrados de instituições de ensino superior (IES) públicas assim como outras cinco licenciaturas e sete mestrados de IES privadas.

Entre os aspetos positivos destaca-se a preparação que os professores têm quanto ao conhecimento que necessitam ter sobre a língua que vão ensinar a ler e a escrever: “Quando olhamos para os planos de estudos dos vários cursos, no domínio da linguística, todos os componentes aparecem assegurados”, sublinhou.

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