Elisabete Maisão dos Santos é fotógrafa e é nessa qualidade que, em finais de outubro do ano passado, foi para o campo de Calais, em França, com uma amiga com quem desenvolvia o projeto HairCult Projet, em que a amiga cortava o cabelo aos refugiados do campo e Elisabete fotografava.
“No final de quatro dias, senti que não estava a contribuir muito porque estava só a fotografar e fiquei dois dias como voluntária”, contou à Lusa.
Depois de dois dias como voluntária, “tudo mudou”, e Elisabete resolveu ficar mais tempo - um mês no campo de Calais e depois mais dois meses a percorrer vários campos de refugiados, espalhados pela Europa, a fotografar e a acompanhar a realidade das pessoas refugiadas.
Em Calais, os dias eram passados a separar os vários donativos que chegavam, entre roupa, sapatos, mantimentos, tendas ou cobertores.
Segundo Elisabete, a realidade no campo era a de poucos voluntários para os mais de seis mil refugiados, que muitas vezes aguardavam mais de três horas por “um prato de comida”.
“No início não sabia quanto tempo ia ficar, as pessoas perguntavam e eu dizia se calhar duas semanas, não sei. Mas pronto, cancelei a minha vida toda em todo o lado, também tinha um trabalho aqui e cancelei”, contou.
Em janeiro regressou a Portugal, com muito material, mas com pouca energia para pensar no que poderia fazer ele.
“Comecei a escrever sobre a experiência, mas para mim. Organizei as fotografias, fiz um blogue, mas uma coisa muito pessoal. Foram muitos meses e foi muito esgotante”, descreveu.
Entretanto, foi ao Brasil em trabalho e é enquanto lá está que uma amiga, que conheceu em Calais, a desafiou a voltar a Idomeni, na Grécia. Primeiro pensou em criar uma caravana, mas depois percebeu que a ideia era demasiado “romântica” e que iria gastar muito dinheiro. Dinheiro que poderia canalizar a ajudar os refugiados.
E foi aí que surgiu a ideia de usar o trabalho fotográfico que tinha feito nos campos de refugiados, o que a levou à galeria Studioteambox, na LxFactory, em Lisboa, começando a ser criada a exposição “Cartas para Refugiados”.
O espaço, tal como explicou a responsável, existe para lançar novos artistas e Elisabete já tinha feito parte do evento inaugural, em 2012.
“Foi uma junção de oportunidades. Abril já é, por norma, um mês em que eu quero por sempre algo que chame à colaboração, ao ativismo social”, explicou a responsável da galeria Sandra Pereira.
A iniciativa “Cartas para Refugiados” é inaugurada hoje, às 17:00, e a exposição tem não só fotografias de Elisabete Maisão, mas também obras de artistas que foram convidados a participar, em princípio uma obra por artista.
“Propomos que as pessoas que visitem a exposição tragam desenhos, cartas, mensagens positivas de como podemos ajudar”, explicou Elisabete.
Ao mesmo tempo, a fotógrafa irá fazer a apresentação da sua viagem e do que se propõem fazer, quando regressar a Idomeni.
“Estou também a fazer um sorteio em que as pessoas podem doar dez euros e, quando tiver dez pessoas que doaram dez euros, vou sortear uma fotografia assinada por mim”, adiantou.
A exposição vai estar patente até dia 22 de abril, altura em que serão leiloadas as várias obras, cujas receitas revertem para custear o regresso de Elisabete ao campo de refugiados.
De acordo com a curadora Sandra Pereira, o objetivo é conseguir angariar pelo menos mil euros, o suficiente para pagar o voo e a estada de Elisabete durante três semanas a um mês, bem como levar os bens angariados.
“Tudo acima disso é para comprar coisas lá”, acrescentou.
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