O líder norte-coreano, Kim Jong-un, não deve comparecer na audiência do tribunal, marcada para hoje, mas a decisão de o convocar é uma rara ocasião em que não foi concedida imunidade a um dirigente estrangeiro, afirmou Kenji Fukuda, um advogado que representa os cinco queixosos.
Os cinco acusam Pyongyang de ter "enganado os queixosos" sobre um programa de reinstalação na Coreia do Norte e de os ter "forçado a viver em condições em que usufruir dos direitos humanos era impossível".
Os lesados exigem 100 milhões de ienes (769 mil euros) cada um como compensação por violações dos direitos humanos.
Cerca de 93 mil residentes de etnia coreana no Japão e familiares regressaram à Coreia do Norte há décadas, após promessas de uma vida melhor, já que muitos foram discriminados no país nipónico.
Eiko Kwasaki, de 79 anos, uma coreana nascida e criada no Japão, tinha 17 anos quando deixou o país, em 1960, um ano depois de a Coreia do Norte ter começado o programa de repatriamento para compensar os trabalhadores mortos na Guerra da Coreia, fazendo regressar os coreanos do estrangeiro.
O programa continuou até 1984 e acolheu muitas pessoas oriundas da Coreia do Sul. O Governo japonês também aderiu, já que considerava os coreanos como estrangeiros e ajudou a organizar o transporte para a Coreia do Norte.
Kawasaki argumentou que esteve confinada na Coreia do Norte durante 43 anos, até que conseguiu desertar em 2003, deixando para trás os filhos já adultos.
"Se tivéssemos sido informados da verdade sobre a Coreia do Norte, nenhum de nós teria ido”, garantiu, durante uma conferência de imprensa, no mês passado.
De acordo com a queixosa, Pyongyang prometeu cuidados de saúde gratuitos, educação, empregos e outros benefícios, mas nada foi concretizado. A maioria das pessoas foi encaminhada para trabalhos manuais em minas, florestas ou quintas, disse.
Em agosto de 2018, Kawasaki e quatro desertores do programa apresentaram uma ação judicial contra o Governo da Coreia do Norte no tribunal distrital de Tóquio para exigir indemnizações.
No mês passado e depois de três anos de discussões, o tribunal decidiu convocar Kim Jong-un para a primeira audiência, em 14 de outubro.
O advogado dos queixosos não espera a comparência de Kim Jong-un, nem o pagamento das indemnizações reclamadas, mesmo que a isso seja condenado pelo tribunal, mas espera que o caso possa estabelecer um precedente para futuras negociações entre o Japão e a Coreia do Norte, na procura da responsabilidade dos coreanos e na normalização dos laços diplomáticos.
Embora legalmente impedida de pedir responsabilidades ao Governo japonês pela ajuda ao programa, Kawasaki espera poder ajudar milhares de participantes a regressar da Coreia do Norte.
“Penso que o Governo japonês também devia assumir a responsabilidade”, vincou.
O pai de Kawasaki estava entre as centenas de milhares de coreanos levados para o Japão, muitos deles forçados, para trabalhar em minas e fábricas antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
O Japão colonizou a península coreana entre 1910 e 1945, um passado que ainda limita as relações com os dois vizinhos.
Atualmente, cerca de meio milhão de japoneses de etnia coreana vive no país, mas continua a enfrentar discriminação na escola, no trabalho e na vida quotidiana.
Os queixosos, que iniciaram o processo em 2018, aguardam que uma data seja fixada hoje para o julgamento.
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