Três vezes por semana, entre as 20:30 e as 21:30, Helena Duarte calça as chuteiras para seguir o sonho de ser como os seus ídolos Rúben Dias (Benfica) e Virgil Van Dijk (Liverpool), em Grijó.
Nos outros dois dias, a bola dá lugar ao violoncelo na Escola de Música de Perosinho, em aulas entre as 14:30 e 15:30, sempre em complemento com a frequência do 9.º ano na Escola Básica 2,3 Soares do Reis, na mesma cidade.
Em declarações à Lusa, contou que o futebol surgiu por “influência do pai e do avô” e que, sonhando em seguir a carreira desportiva, a aposta de vida vai para a medicina, uma frequência académica que promete, a médio prazo, ocupar-lhe ainda mais o tempo já hoje curto.
A explicação foi complementada por Sandra Duarte, que, além de mãe da Helena, é uma espécie de taxista permanente da jovem defesa central.
“Ela é muito focada e dedicada em tudo o que faz e no que decide fazer. Sempre tivemos a opção de ela experimentar coisas diferentes (…). No caso da Helena, escolheu o violoncelo e o futebol e o que quer seguir é saúde, todas elas situações de muita exigência”, contou.
Apesar de ter apenas 14 anos, Helena treina-se com as sub-19 e defende que, tanto no futebol como no violoncelo, há que estar “focada ao máximo, pois ao mínimo erro cai tudo”.
“O tempo que as duas tarefas me ocupam ajudam-me a preparar para o futuro, a saber-me organizar, porque como adultos teremos de conseguir conciliar tudo”, disse a jovem para quem “não há diferença entre o futebol masculino e feminino” e que “Portugal está a evoluir cada vez mais”, citando como exemplo as seleções sub-17 e sub-19, que foram apuradas para a Ronda de Elite do Europeu.
A estudar violoncelo, por influência da irmã, desde os seis anos, Helena mostrou pragmatismo quando questionada sobre porque gosta de manter-se ocupada.
“Não sou como a maior parte dos jovens que preferem não fazer nada e ficar sentados no sofá a olhar para o telemóvel, ou para a televisão. Acho muito melhor e muito mais educativo, em vez de ficar sentado no sofá, a jogar videojogos, aprender algo que seja bom para o futuro”, refletiu.
O professor de violoncelo, João Costa, ensina-lhe o dedilhar no instrumento, mas também observa uma lógica que aproxima duas realidades que se tocam no objetivo: “do contributo do futebol para a música, consigo ver, enquanto ela tiver uma atitude saudável, o trabalho de equipa”.
“A Helena é aluna de violoncelo, mas também faz parte de uma orquestra e uma orquestra é um modelo de relação social dos mais utilizados para as empresas, por todos terem de colaborar para um sucesso conjunto. E no desporto é a mesma coisa”. precisou João Costa.
Em campo, o treinador João Ribeiro, com um passado também ligado à música, acrescentou a sua opinião sobre a atleta e a aluna de música, considerando que a Helena “tem uma sensibilidade e uma personalidade bastante desenvolvidas”.
“Considero que o futebol acaba por ser uma forma de arte e é importante ela ter essa sensibilidade para as respostas que o futebol exige. A capacidade para gerir as emoções tem de ser trabalhada. Como também estudei música, acabo por ter essa perceção, o de que qualquer tipo de arte nos dá esse lado emocional que depois se transfere para o futebol”, disse.
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