Vários distritos do continente, em particular Lisboa, foram afetados por chuvas fortes no final do ano, com grandes inundações, dezenas de desalojados e prejuízos de milhões de euros.

Mais de um mês depois, o presidente da Junta de Freguesa de Alcântara, Davide Amado, disse à Lusa que os comerciantes ainda não receberam qualquer tipo de verbas.

“Na passada semana fiz uma visita ao comércio e ainda não tinham recebido qualquer apoio, nem de seguros nem da Câmara Municipal. Ainda estão no processo de enviar candidaturas e estão a aguardar”, contou.

Davide Amado disse estar preocupado com a demora do processo, que “é muito burocrático”.

“Temos questionado os comerciantes sobre se receberam ou não e todos dizem que estão no processo burocrático de candidatura. Foram aprovados 750 mil euros para apoio ao comércio, o que nos parece manifestamente insuficiente, e 2,2 milhões euros para as habitações. A junta não tem interferência nestes processos”, indicou.

O presidente da Junta de Freguesia de Alcântara não conseguiu precisar o número de comerciantes afetados, apenas referindo que “são bastantes”, e indicou que também não tem informação de que os apoios ao nível das habitações tenham sido pagos.

Apesar de as verbas ainda não terem chegado, Davide Amado não tem conhecimento de que algum comércio da freguesia tenha encerrado.

“Todos reabriram, obviamente com todos os constrangimentos que tiveram de ter. Tivemos aqui situações em que o prejuízo foi bastante elevado em algumas atividades económicas. A indicação é de que todos conseguiram reabrir”, disse.

Também o presidente da União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo, João Antunes, afirmou à Lusa que ainda há muitos comerciantes que aguardam respostas das seguradoras.

“Do conhecimento que tenho, os comerciantes ainda estão a proceder à entrega de documentos. Há um ou dois processos completos e outros tantos com ordem de pagamento pelas seguradoras”, contou.

De acordo com João Antunes, o processo está a ser dificultado pela burocracia: “São muitos processos a cair nas seguradoras também”.

O autarca não tem conhecimento de que haja um número significativo de espaços comerciais e serviços que não conseguiram reabrir face aos prejuízos.

“Nesta altura, tenho conhecimento de que alguma restauração no interior do mercado ainda não abriu e o centro de saúde também não, porque está a ser alvo de obras. Os utentes estão a ser atendidos no Centro de Saúde de Sete Rios”, referiu.

O presidente da União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo disse ainda que não estão terminadas as obras do muro de cerca de oito metros situado na Rua Sacadura Cabral, no Dafundo, que desmoronou, levando ao enceramento da estrada.

“É uma obra complicada. Vão ter de tirar a vegetação toda a montante para conseguir tirar a terra e aliviar a pressão do muro e depois podem refazê-lo. É uma obra complexa”, disse.

A chuva intensa e persistente que caiu em dezembro levou o concelho de Oeiras a reportar prejuízos de 16 milhões de euros. Algés, onde morreu uma mulher, foi a zona mais afetada.

O município de Lisboa reportou prejuízos de 38 milhões de euros. Alcântara foi, neste caso, uma das áreas mais atingidas.

Em janeiro, o Governo anunciou que o mau tempo registado entre o final de 2022 e o início de 2023 causou prejuízos de 293 milhões de euros no território continental, ascendendo o volume de apoios a conceder a cerca de 185 milhões de euros.

Lisboa definiu apoios de cerca de três milhões de euros para famílias e atividades económicas, enquanto Oeiras estabeleceu um fundo de 1,5 milhões de euros destinado essencialmente a comerciantes e famílias.

As empresas de seguros têm de pagar mais de 47 milhões de euros de indemnizações por danos causados pelas inundações em dezembro na Área Metropolitana de Lisboa, segundo um balanço provisório divulgado no início de janeiro pela Associação Portuguesa de Seguradores.