“Aquilo que depois de muitos e muitos anos estamos agora a ver pela primeira vez é esta conjugação de entendimento sobre aquilo que precisa de ser feito associado a um sentimento de urgência”, disse João Gomes Cravinho, em declarações à agência Lusa em Barcelona, no final da reunião da União pelo Mediterrâneo (UpM), que juntou responsáveis políticos pela diplomacia de 43 países e da União Europeia.

O ministro disse que houve no encontro “uma enorme convergência”, associada “a um sentimento de urgência” em torno da “necessidade de uma solução de dois Estados [israelita e palestiniano]”, que todos os países reconhecem “ser a única real possibilidade de uma solução para a paz e a estabilidade a longo prazo”.

O “ingrediente novo”, acrescentou, é “o sentimento de urgência” e de não ser aceitável e possível regressar à situação que existia antes do ataque a Israel de 7 de outubro por parte do grupo islamita radical Hamas, que controla o território palestiniano da Faixa de Gaza.

“Não podemos regressar ao 6 de outubro, àquilo que era uma paz podre, uma situação malsã anterior”, afirmou.

Segundo João Gomes Cravinho, no encontro da UpM houve também o reconhecimento da “necessidade absoluta” de prolongar a trégua na guerra em Gaza, em que já morreram 14 mil pessoas no território palestiniano, vítimas da operação militar com que Israel respondeu ao ataque do Hamas.

Só um cessar-fogo permanente permite “o trabalho diplomático e político”, que “é urgente para a solução dos dois estados”, mas também a entrada de ajuda humanitária em Gaza, disse João Gomes Cravinho.

Em resposta ao ataque do Hamas, Israel bombardeou a Faixa de Gaza nas últimas semanas e bloqueou o acesso ao território, impedindo o abastecimento.

O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) defendeu que o prolongamento da trégua atual é possível, para além de ser necessária.

“Sentir-se-iam todos muito, muito defraudados em relação às expectativas de paz que existem. Se agora se regressasse aos bombardeamentos, acho que seria indesculpável e, portanto, é fundamental que agora se prolongue este cessar-fogo”, defendeu.

A Autoridade Palestiniana esteve representada hoje em Barcelona, mas Israel, um dos países fundadores da UpM, optou por não ir à reunião.

“Naturalmente que Israel tem de fazer parte desta solução e, por isso, temos muita pena que Israel não tenha estado”, disse o MNE, que realçou que a UpM não é, porém, uma “instância decisória” e a ausência do governo de Telavive não impediu “que se fizesse um bom progresso, precisamente na identificação das linhas comuns da comunidade Internacional como um todo” em relação à situação no Médio Oriente.

Para João Gomes Cravinho, “seguramente que Israel irá reconhecer que a sua segurança e o seu interesse de longo prazo está em contribuir para uma solução de dois estados”.

O ministro disse ainda que no encontro houve também “muitas referências”, que Portugal partilha, “de profunda preocupação em relação ao que se passa na Cisjordânia, com a extensão de colonatos ilegais” israelitas neste território palestiniano.

Em relação à proposta de Espanha para uma conferência internacional de paz para o Médio Oriente, João Gomes Cravinho disse que uma iniciativa dessas precisa de ter “uma sustentação prévia” e de um “diálogo sobre muitos aspetos que precisam de ser ponderados no quadro do desenvolvimento da solução de dois estados”.

A conferência de paz deve ser “o culminar desse processo” e se for feita “sem preparação, naturalmente, que não produziria resultados interessantes”, pelo que “de hoje para amanhã” não é viável.