“Estamos a acompanhar com o máximo de atenção e devo dizer que isso sente-se um pouco por toda a Europa. Ou seja, a perceção de que há um abrandamento nos mercados mais fortes europeus, nomeadamente as duas locomotivas - França e Alemanha – e, ao mesmo tempo, de que há setores que estão a compensar e a acelerar”, afirmou Pedro Reis em declarações aos jornalistas à margem do evento Millennium Portugal Exportador, em Santa Maria da Feira.

O ministro assegurou, contudo, não ter “ainda nenhuma evidência” de uma onda de falências, nomeadamente no setor dos componentes automóveis, salientando que, “na Europa, [este] é um tema que está no coração da agenda”.

“Seja a Europa como um bloco económico, sejam os ‘players’ europeus nas suas várias dimensões, estão muito atentos”, disse.

Para Pedro Reis, a economia portuguesa “tem de adaptar-se a um crescimento em determinados setores mais acelerados do que outros”, sendo que “Portugal tem estado a dar cartas na reindustrialização verde, na energia e em tudo o que tem a ver com mobilidade, em termos de serviços e de tecnologia intensiva”.

Já relativamente a setores tradicionais, como o têxtil ou o calçado, onde têm acontecido vários encerramentos, o governante considera que “as empresas portuguesas também têm respondido relativamente bem, procurando novos mercados e investindo na marca e na inovação”.

Para contrariar os efeitos do abrandamento económico europeu na economia nacional, Pedro Reis diz que a estratégia do Governo passa por “agarrar o máximo possível das empresas que já estão em Portugal e complementar a cadeia de valor para que estejam mais tranquilas e mais complementadas nos seus ‘clusters’”.

“Estamos a procurar verticalizar e ‘clusterizar’ esse setor, através da integração de novos centros de competência, do reapetrechamento da nossa indústria para materiais e componentes mais ajustados ao carro elétrico e de cadeias de valor (como a produção de baterias e de componentes) o mais integradas possíveis, porque isso dá ganhos de competitividade e atrai todo esse ‘cluster’”, concretizou.

“Portanto – acrescentou - fechar as cadeias de valor, procurar trazer mais fornecedores dessas áreas para Portugal e construir um pacote de incentivos o mais agressivo possível para manter investimento ou trazer novo investimento”.

Relativamente à concorrência asiática na área automóvel, nomeadamente de países como a China, o Japão ou a Coreia do Sul, o ministro da Economia defende que não se deve subestimar a capacidade de reação europeia, garantindo que “a Europa tem a perceção do que se está a passar”, mas que se deve aguardar “pelo plano Draghi, pela nova Comissão e pelas decisões que vão ser tomadas para acelerar o crescimento dessa indústria”.

“Eu não subestimaria a competência da indústria europeia na área automóvel, não subestimaria a capacidade da indústria europeia de se readaptar, não subestimaria o facto de a Europa estar à frente nas tecnologias verdes, em novos processos de inovação e de sustentabilidade, não subestimaria o exemplo que a Europa já muitas vezes deu de capacidade de renovar e de ser forte nessa coluna vertebral da engenharia”, sustentou, acrescentando: “[Mas] também não me distrairia com a mudança de paradigma que países como a China estão a introduzir nesta indústria em particular”.

Segundo o ministro, na fileira automóvel, “o mundo inteiro, e a Europa em particular”, está “a repensar a sua estratégia face ao avanço das soluções do carro elétrico e a alguma perda de competitividade”.