Depois de 13 semanas de protestos nas ruas, Carrie Lam anunciou o fim definitivo da lei da extradição. O anúncio foi feito numa reunião interna com parlamentares pró-extradição e delegados de Hong Kong do Congresso Nacional do Povo da China, refere a Reuters.

No passado a líder do executivo de Hong Kong deu a lei como "morta", mas não procedeu à sua retirada formal. Esta era uma das exigências principais dos manifestantes.

Contudo, não há garantias de que o clima nas ruas se altere. Ao saber-se da notícia, a reação imediata pareceu cética, uma vez que as pessoas estão "furiosas com a brutalidade policial e com o número de detenções", 1.183 na última contagem, diz a Reuters.

Esta é a única cedência de Carrie Lam às cinco reivindicações do movimento pró-democracia.

Num anúncio pré-gravado e transmitido pelas televisões pouco antes das 18:00 (11:00 em Lisboa), Carrie Lam voltou a recusar a criação de uma comissão de inquérito independente e a amnistia aos manifestantes detidos.

Lam disse ainda que a alteração da denominação dos incidentes violentos, que os manifestantes exigem que não sejam chamados de motins, depende das linhas mestras que guiam os processos judiciais.

A governante sustentou a ideia de que a discussão sobre o sufrágio universal para o cargo de chefe de Governo e para o parlamento de Hong Kong deve ser realizada num ambiente favorável e não polarizado, sublinhando, contudo, que esse é um objetivo último inscrito na Lei Básica.

Por outro lado, prometeu iniciar já este mês diligências no âmbito da anunciada plataforma de diálogo com a sociedade e prometeu o desenvolvimento de um estudo para determinar as razões na origem das insatisfações de natureza social.

Em Hong Kong vive-se um impasse político, com o movimento pró-democracia a definir cinco reivindicações, sendo elas: a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, e finalmente a demissão da chefe de Governo Carrie Lam e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

As manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma "erosão das liberdades" na antiga colónia britânica.

A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa.

Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário. O Governo central chinês é responsável pelas relações externas e defesa.

Ontem, o governo chinês acusou os manifestantes de Hong Kong de tentarem derrubar o governo local para assumirem o controlo da cidade e transformá-la numa "entidade independente", de onde poderão "operar contra" as autoridades de Pequim.

"Eles querem causar instabilidade no governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong e usurpar os seus direitos para fazer de Hong Kong uma entidade política independente ou semi-independente", acusou Yang Guang, porta-voz do Gabinete para Assuntos de Hong Kong do Conselho de Estado chinês.

Em conferência de imprensa, Yang acusou os manifestantes de "quererem exercer plena autoridade na região de Hong Kong e trabalharem contra o Governo chinês". "Está na hora de defender o princípio 'um país, dois sistemas' [a fórmula que garante alto grau de autonomia a Hong Kong], a paz e a estabilidade em Hong Kong", disse.

O porta-voz descreveu os protestos como atos de "intimidação e sequestro político".

Yang elogiou ainda os chineses radicados além-fronteiras que demonstram o seu apoio ao Governo chinês - manifestações na Austrália ou Canadá resultaram em confrontos entre manifestantes pró-Pequim e grupos pró-democracia em Hong Kong.

O porta-voz do Governo central defendeu que, para "amar Hong Kong, é preciso defender o princípio 'um país, dois sistemas' e trabalhar contra aqueles que o desafiam".

"Devemos levar à justiça criminosos e, em particular, quem planeia e organiza. Todos devemos agir agora. Ninguém escapará da Justiça", afirmou.

Face à possibilidade de o Executivo de Hong Kong pedir ajuda às tropas chinesas estacionadas em vários quartéis na cidade, Yang lembrou que "as instituições chinesas em Hong Kong, incluindo o exército, representam a dignidade e soberania do Governo central". "É algo que não pode ser questionado de forma alguma", acrescentou.

Sobre as alegações das autoridades chinesas de que os protestos em Hong Kong são uma "revolução colorida" instigada por forças estrangeiras, Yang respondeu que se trata de algo "cada vez mais óbvio", apontando que "alguns manifestantes entoam slogans que pedem a independência de Hong Kong e uma aliança com os Estados Unidos e o Reino Unido".

*Com agências

(Notícia atualizada às 11h19)