Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Peru referiu que as declarações de Petro constituem “uma ingerência inaceitável nos assuntos internos do Peru, especialmente grave no contexto de atos de violência que causaram lamentáveis perdas de vidas humanas”.

Para o governo peruano, as palavras do chefe de Estado colombiano “não condizem com as tradicionais relações de respeito mútuo, amizade, cooperação e desejo de integração” que unem tanto os Estados como os povos.

Da mesma forma, a diplomacia peruana enfatizou que as declarações de Petro “afastam-se da prudência” que os sucessivos governos do Peru e da Colômbia cultivaram em relação aos assuntos políticos internos do outro Estado, especialmente “em situações complexas e delicadas”.

Na sexta-feira, o Presidente da Colômbia realçou que o Peru atravessa uma crise, onde está preso “um Presidente eleito popularmente”, Pedro Castillo, classificando a situação como “explosiva”.

Gustavo Petro acrescentou ainda que a crise interna no Peru “está a alterar o calendário do processo de integração” que estava a decorrer, explicando que as dificuldades que o Congresso (Parlamento) peruano estava a colocar a Pedro Castillo para viajar aos encontros latino-americanos impediam “a articulação, a integração económica da América Latina e da área andina”.

Questionado sobre se reconhece Boluarte como presidente, Petro evitou responder e destacou que ainda não conversou com o novo governo.

Na semana passada, a diplomacia colombiana, em conjunto com os governos do México, Argentina e Bolívia, emitiu uma declaração a garantir que Castillo ainda era reconhecido como Presidente e que estava a ser “vítima de assédio antidemocrático”.

O Peru atravessa uma crise política e social devido às manifestações que abalam o país desde a destituição do ex-Presidente Pedro Castillo.

Os protestos começaram a 07 de dezembro em várias regiões do Peru, particularmente na capital Lima e na parte sul dos Andes peruanos, depois do Congresso (parlamento) ter destituído Pedro Castillo da Presidência.

A destituição aconteceu depois de Castillo ter anunciado a dissolução do parlamento e a criação de um executivo de emergência, que governaria por decreto, medida interpretada maioritariamente como uma tentativa de golpe de Estado.

Na semana passada, o Supremo Tribunal do país deliberou que Pedro Castillo, sob investigação por rebelião, ia ficar em prisão preventiva durante 18 meses.

Os manifestantes exigem a demissão do Presidente Dina Boluarte (anteriormente vice-presidente), que substituiu Castillo no âmbito da sucessão constitucional, e o encerramento do Congresso, bem como a convocação de eleições gerais e de uma assembleia constituinte.

Boluarte, que defende a legalidade constitucional da sua gestão e que no sábado descartou renunciar ao cargo, apresentou um projeto-lei para antecipar as eleições gerais do país para dezembro de 2023, uma decisão que ainda tem de ser resolvida pelo Congresso.

O Governo peruano decretou o estado de emergência a nível nacional, por um período de 30 dias, em resposta aos protestos.

Devido aos acontecimentos no país, milhares de turistas ficaram retidos no Peru, incluindo cidadãos portugueses.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros informou hoje de manhã que 25 dos 66 portugueses que estavam no Peru já saíram do país.