Mevlut Cavusoglu foi recebido por 800 pessoas da comunidade turca em França no domingo à tarde, 12 de março, a quem dirigiu um discurso de cerca de meia-hora. O evento reveste-se de especial importância depois de outros países proibirem os comícios turcos, algo que conduziu a uma crise diplomática entre a Turquia e a Alemanha e, mais recentemente, com a Holanda.
Na opinião de alguns grupos políticos franceses, escreve o Le Monde, o comício deveria ter sido impedido.
O candidato conservador à presidência francesa, François Fillon, considerou que o governo “lidou mal com a situação, do princípio ao fim”. Ao aprovar a reunião, diz, François Hollande, atual presidente francês, “quebrou a solidariedade europeia quando é claro que uma posição comum deveria prevalecer face às exigências turcas”.
Fillon, citado pelo Le Monde, acrescenta que a Alemanha e a Holanda foram “insultadas publicamente de forma inqualificável” e que a Turquia “está cada vez mais longe dos valores que sustentam o projeto europeu”.
Por sua vez, Benoît Hamon, candidato do Partido Socialista às presidenciais, apoiou a decisão do executivo em funções dizendo que “o papel de França não é banir à priori um debate apesar de discordar com Erdogan”.
Para Emmanuel Macron, independente à frente do movimento Em Marcha! e também candidato presidencial, a União Europeia deveria reagir “de forma unida”.
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Marc Ayrault, justificou a decisão de permitir o comício com o “estado de direito”. “No presente caso, na ausência de ameaça comprovada à ordem pública, não há razão para proibir este evento, além de que não representa uma interferência na vida política francesa”.
No sábado, as autoridades holandesas impediram a aterragem do avião onde viajava o chefe da diplomacia turca, Mevlüt Çavusoglu, enquanto a ministra dos Assuntos Familiares, Fatma Betul Sayan Kaya, foi expulsa da Holanda para a Alemanha.
Mevlut Cavusoglu tinha previsto fazer um discurso de campanha na Holanda, no sábado, a favor do alargamento dos poderes constitucionais de Erdogan, que será referendado a 16 de abril.
Um milhar de pessoas, sobretudo com dupla nacionalidade, manifestaram-se no sábado à noite em frente ao consulado turco de Roterdão para protestar contra a interdição da entrada da ministra no consulado. Incidentes opuseram durante a noite manifestantes à polícia holandesa. Segundo os media holandeses, 12 pessoas foram detidas e um policia ficou ferido com uma mão partida.
O debate em torno das propostas de alteração legislativa turca – que na prática convertem o sistema democrático parlamentar, em vigor na Turquia, num sistema presidencialista – tem sido tenso na Turquia e na Europa. Erdogan salienta que é necessária uma Presidência forte para dar músculo à Turquia, uma vez que o país está confrontado com múltiplas ameaças terroristas.
Os críticos argumentam que as alterações vão concentrar demasiados poderes nas mãos de Erdogan, bem como anular o sistema de controlo (‘checks and balances’) quanto à sua governação.
Não é a primeira vez que oficiais turcos são impedidos de fazer campanha no exterior. Decisões semelhantes foram tomadas na Áustria, Alemanha e na Suíça.
Isto levou mesmo o presidente turco a acusar também a Alemanha de práticas nazis, o que aumentou a tensão entre os dois países, colocando em causa as suas relações diplomáticas. A Alemanha tem a maior comunidade da diáspora turca, cerca de três milhões de pessoas, que é cortejada por várias partes antes de cada eleição importante na Turquia.
Em resposta, Merkel recomendou a Erdogan que mantenha a "cabeça fria". “Ao nosso parceiro turco, (digo que) sejamos críticos quando necessário, mas não percamos de vista o significado da nossa parceria, da nossa relação estreita. E mantenhamos a cabeça fria”, indicou perante a imprensa o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert.
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