“Assistimos, nestes últimos dias, no quadro da operação de chantagem” do executivo socialista, “com a sua ameaça de demissão à volta da questão da aplicação do tempo de serviço dos trabalhadores da administração pública, a falar ao país nos avanços como sendo conquistas só do Governo do PS”, disse o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, em Vendas Novas (Évora).
Num jantar da CDU, após uma passagem por vários concelhos do distrito de Évora, o secretário-geral comunista afirmou que o PS recorreu ao argumento do “espantalho do regresso aos tempos da ‘troika’” e de que essas medidas positivas “estariam a ser postas em causa com a proposta” para devolver o “tempo de serviço dos professores e de outros profissionais dos corpos especiais do Estado”.
“Primeiro, não vale a pena o PS ‘enfeitar-se’ com as medidas positivas que foram alcançadas nesta nova fase política nacional. Muito do que se avançou começou por ter a oposição ou a resistência do PS. São conquistas sim, mas que o PS e o seu Governo, em muitos casos, recusavam”, argumentou Jerónimo de Sousa.
O líder do PCP referiu-se também ao primeiro-ministro, António Costa, que, na segunda-feira, “explicava que estas medidas de reposição de direitos aos professores não eram sustentáveis para a economia” e “em relação à redução do défice”.
“E, por azar do PS, há bocado, ali no Centro de Trabalho do PCP, vendo um telejornal, o que é que dizia Bruxelas? Não se consegue reduzir o défice, como vocês dizem, porque deram muito dinheiro ao Novo Banco”, contrapôs.
Jerónimo referia-se às previsões da primavera da Comissão Europeia, divulgadas hoje, em que se estima que o défice público de Portugal registe em 2019 uma ligeira diminuição face ao valor observado em 2018 (0,5%), enquanto o saldo sem medidas extraordinárias deve permanecer inalterado num excedente de 0,2% do PIB.
Entre as medidas extraordinárias com impacto no saldo, Bruxelas aponta a nova injeção de capital no Novo Banco ao abrigo do Mecanismo de Capital Contingente, que terá um impacto de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo o líder do PCP, “não houve preocupação nenhuma” do Governo “em ver a sustentabilidade da economia” e “as consequências para o défice” nesta questão do Novo Banco: “Não senhora, logo ali a jeito, ‘mãos rotas’, milhões e milhões de euros para a banca, para os banqueiros que andaram a fazer os desmandes durante estes anos todos”.
O PS, acusou Jerónimo de Sousa, “fez uma opção”, ou seja, a de estar “ao lado dos banqueiros, ao lado da banca”, mas “contra os trabalhadores e, neste caso concreto, contra os professores”.
Incentivando os militantes e simpatizantes do partido para as batalhas eleitorais deste ano, a começar pelas europeias do próximo dia 26, em que é preciso “ter mais votos e eleger mais deputados”, Jerónimo sustentou que “hoje compreende-se melhor que é o calculismo eleitoral e a fixação na maioria absoluta que levam o Governo PS a ameaçar demitir-se”.
“Se a atual correlação de forças se alterar a favor do PS alguém pensa que vai ficar tudo como antes? Ninguém pense que tudo ficará igual se o PS ficar com as ‘mãos livres’ ou com aquilo que ‘tem na cabeça’, que é conseguir uma maioria absoluta”, avisou.
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