Numa entrevista à Agência Lusa a propósito da época festiva que se aproxima e do aumento de casos de uma nova variante do vírus que provoca a doença covid-19, a Ómicron, já considerada de risco muito elevada, a responsável pede moderação e não coloca de lado o aumento de restrições, tudo dependendo da evolução da situação.

A pandemia de covid-19 e a nova variante, com uma grande capacidade de propagação, mas também o inverno, vão condicionar as festas de Natal e ano novo, alerta Graça Freitas, acrescentando que “tradicionalmente a última semana de dezembro e o mês de janeiro são períodos difíceis”. Porque há o frio, existem os vírus e as festas nas quais as pessoas se tendem a juntar.

“O que eu diria aos portugueses, independente do que vai acontecer nos próximos dias em termos da variante, é que temos de estar conscientes e responsáveis dos riscos que corremos no nosso dia a dia. Estar cientes de que pandemia não acabou, que temos uma nova variante, e que vamos entrar no período de maior ‘stress’ do ano, o inverno, pelas baixas temperaturas e pela circulação de outros vírus que não o Sars-CoV-2”, disse.

Por isso, acrescentou à Lusa, quem tem indicação para se vacinar contra o novo vírus deve fazê-lo. E antes dos convívios do Natal os portugueses devem utilizar os testes rápidos, porque dão uma garantia de que, durante algumas horas, as pessoas não contagiam nem são contagiadas.

“Não temos nada contra as festas, mas temos de ter o bom senso de limitar o número de conviventes”, disse, salientando também a importância das “outras medidas clássicas”, o uso de máscara, a higienização das mãos, o distanciamento social e a ventilação dos locais. E na consoada, sugeriu, pessoas em mesas separadas e uso de máscara sempre que possível.

E questionada se tudo isto não impedir um aumento exponencial de casos e poder levar a medidas mais restritivas nas próximas semanas, Graça Freitas sorri e afirmou já ter aprendido que não pode dizer que não se justificam.

“Nós temos de ter a humildade de ir ajustando as medidas ao risco epidemiológico. Se nos próximos tempos a variante Ómicron tiver um comportamento distinto do que tem agora, ou for mais rápida a sua transmissibilidade, ou maior escape à vacinação, ou maior gravidade e impacto nos serviços de saúde, pois bem, obviamente é para isso que existem medidas mais duras, ou menos duras, conforme se antecipa e projeta o comportamento do vírus”, diz à Lusa.

“Entretanto temos de ser felizes, continuar a ter vida"

“Entretanto temos de ser felizes, continuar a ter vida de relação, vida social, vida emocional, não podemos interromper a nossa vida, já o fizemos por alguns períodos, porque tínhamos muita incerteza, medo, porque não sabíamos exatamente o que nos esperava nem o comportamento do vírus. Mas (…) já passaram dois anos, já sabemos que não podemos dizer com certeza absoluta o que vai acontecer nas próximas semanas ou meses, aprendemos que o vírus varia, mas temos de encontrar um equilíbrio para não interromper a vida, porque só temos esta”, disse à Lusa.

Quando questionada se a Direção-Geral da Saúde (DGS) poderia tomar medidas mais restritivas nos próximos tempos Graça Freitas já tinha falado desse equilíbrio, e da necessidade de se ir adaptando o comportamento e as medidas ao comportamento do vírus.

“Para nos permitir viver entretanto, e ter vida, não podemos estar nem sempre confinados, nem sempre completamente à vontade. Este equilíbrio não é fácil, mas é esse que temos”, afirmou.

A situação hoje é diferente, salientou a diretora-geral, lembrando que há mecanismos de vigilância epidemiológica, nacionais, europeus e mundiais, “muito melhores do que eram no início da pandemia”, que a ciência também evoluiu e que é mais fácil antecipar picos (da epidemia) e medidas que sejam necessárias.

“Temos de viver com este espírito. Que o que é válido para esta semana pode ter que ser reforçado para a próxima semana, e depois andar outra vez para formas mais leves de vida, e temos de viver nestes equilíbrios. Creio que as pessoas sabem o que devem fazer”, disse.

Graça Freitas considerou que Portugal estará entre a fase dois e três do plano de contingência da DGS, sendo que a fase três contempla o aparecimento de uma nova variante e um aumento da transmissão do vírus e acrescentou que é preciso aguardar para saber mais das características da nova variante Ómicron, e admitiu que hoje, em relação ao ano passado na mesma altura, a população tem menos medo da covid-19.

“Noto as pessoas com menos medo, mas não noto as pessoas com menos responsabilidade no seu dia a dia”, disse, acrescentando: “não estando com medo estão a cumprir as regras”.

Faz parte da natureza humana, salientou, saber lidar com as ameaças e não viver sempre amedrontado. E os portugueses têm sabido cumprir as regras, o que se vê também na boa adesão à vacinação e à testagem. “Creio que isso significa maturidade da população”.

Mas nada é “absolutamente estanque”. Por isso admite que as medidas (escolas encerradas ou teletrabalho, por exemplo) restritivas impostas até dia 09 de janeiro podem prolongar-se, ou que podem surgir outras.

“Tudo depende da evolução do vírus”, diz, acrescentando que as medidas se vão adequando, de forma equilibrada, para permitir uma vida “tão perto quanto possível” da que existia antes do surgimento do novo coronavírus.

Para já, insiste, é preciso apostar na vacinação, nos autotestes, nas máscaras, na higienização das mãos, no distanciamento social.

E Graça Freitas acredita que a população vai continuar a aderir à terceira dose da vacina, e faz um apelo nesse sentido.

“O que digo aos portugueses, e não só aos portugueses, é que se vão vacinar”, porque a vacinação “continua a ser necessária para a sua proteção”.

Em relação à vacinação de crianças, Graça Freitas admite que a adesão não é a que gostaria. Mas acrescenta: “Mas também temos a experiência do grupo anterior, dos 12 aos 17 anos”, de que as pessoas à medida que o processo decorre “vão adquirindo confiança”.

A taxa de vacinação dos 12 aos 17 anos “aproxima-se muito dos outros grupos etários apesar de ter também tido um início que não foi o que gostaríamos”, disse, reafirmando o mesmo apelo: se nos podemos proteger devemos fazê-lo.