“O sonho por si só continua a ser um processo não totalmente compreendido”, começa por lembrar Carlos Figueiredo, médico especialista em Medicina do Sono, ao SAPO24. “Atualmente, assume-se que todos nós sonhamos”, acrescenta, mas o que difere de pessoa para pessoa é a memória que se tem dos mesmos.

“Geralmente o sonho consiste na criação intrínseca de imagens, situações, emoções, mais ou menos complexas, geralmente com integração de conteúdo da realidade do próprio num método de processamento mental de situações que se pensa ter impacto na gestão emocional e na reação a situações quotidianas da pessoa”, explica o especialista.

Apesar de ainda persistirem várias dúvidas, “sabe-se que os sonhos podem ocorrer em qualquer fase do sono, mas serão mais vividos, mais reais e mais complexos, no sono designado REM, caracterizado pelo movimento rápido dos olhos (rapid eye movement)”. A quantidade e duração dos sonhos varia entre as pessoas e ao longo da vida de cada um.

Segundo Carlos Figueiredo, lembrar os sonhos ao acordar não é um sinal a que se deva estar atento. No entanto, “a mudança do padrão habitual do relembrar dos sonhos, aliado a outras queixas do sono e diurnas, podem de facto ser um alerta para alguma interrupção anormal do sono”.

Em que situações é provável ter memória dos sonhos?

“O despertar causado por uma patologia do sono ou até pela superficialização do sono”, ou seja, a diminuição da profundidade do sono, “principalmente quando ocorre na fase do sono REM, pode aumentar a probabilidade de relembrar o sonho e conseguir reportá-lo”, responde o somnologista.

A atividade cerebral não significa, contudo, que a noite foi mal dormida. O sono é “um processo de recuperação ativa, de reestruturação de comunicações, ligações e sistemas internos mentais”, e desempenha um papel importante na “limpeza de resíduos cerebrais”, nota o especialista. Só assim é possível “a reestruturação mental e psicológica e a recuperação para o dia seguinte”.

Para quem tem dificuldade em dormir, o recomendável

Não existe uma resposta isolada para quem tem dificuldade em dormir, “dada a diversidade de situações individuais e de patologias do sono”, reforça Carlos Figueiredo. É importante prestar atenção ao padrão de sono e a possíveis alterações. “Se persistem as queixas do sono com impacto durante o dia, deverá procurar ajuda profissional na análise e gestão da situação.

Para uma boa noite de sono, recomendam-se medidas de higiene do sono, como:

  • Horários de sono regulares,
  • Redução da exposição a luz e dispositivos antes do deitar,
  • Promover o conforto durante o sono,
  • Exposição solar de manhã,
  • Alimentação saudável (evitando refeições copiosas antes de deitar),
  • Atividade física idealmente de manhã.

Quando contactar um especialista?

“Quando a dificuldade em iniciar ou manter o sono persiste ou a sua qualidade e quantidade está diminuída face ao padrão habitual, ou quando desde sempre se verificou alterações do sono para o que o próprio consideraria normal”, deve marcar uma consulta, refere Carlos Figueiredo.

Além disso, deverá ficar alerta para sinais como:

  • Ressonar,
  • Paragens respiratórias durante o sono,
  • Despertares repetidos,
  • Movimentos e comportamentos anómalos geralmente repetitivos durante o sono,
  • Ranger dos dentes repetido com impacto no sono,
  • Dificuldade na gestão dos horários de sono associado a viagens com transição entre fusos horários,
  • Dificuldade em gerir os horários com os turnos de trabalho ou com o horário pretendido para a sua atividade diária,
  • Queixa de sono que se repercute com queixas durante o dia no seu quotidiano, qualidade de vida e performance no trabalho e social”.

O médico especialista em Medicina do Sono recomenda “a procura ativa por profissionais e equipas dedicadas especialmente à área do Sono que podem ajudar a explorar a situação individual e a detalhar um plano personalizado de diagnóstico e tratamento que terá um impacto significativo na qualidade de vida e na saúde da pessoa”.