A Nova Democracia (ND) surge como a provável vencedora do escrutínio, repetindo a vitória registada nas eleições europeias de 26 de maio passado e nas regionais e municipais que decorreram em simultâneo, com segunda volta a 02 de junho.
Diversas sondagens admitem, inclusive, que o partido conservador liderado por Kyriakos Mitsotakis, representante das “dinastias familiares” que têm dominado a política helénica desde o regresso da democracia parlamentar em 1974, poderá obter maioria absoluta.
Um recente estudo do instituto Pulse para a televisão privada SKAY dá 35% dos votos à ND, face aos 26,5% do Syriza-Aliança Progressista, liderado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Na terceira posição surge a aliança social-democrata Kinal, dominada pelo antigo Pasok (socialistas), com 6,5%, seguido pelo Partido Comunista (KKE, 5%) e o neonazi Aurora Dourada (CA, 4%).
No entanto, é possível que dois outros partidos ultrapassem a barreira obrigatória dos 3% de votos para garantir representação parlamentar: o recém-formado partido ultra-direitista Solução Grega (EL), de Kyriakos Velopoulos, e a Frente da Desobediência Realista Europeia (MeRA25, esquerda) fundada pelo ex-ministro das Finanças Yannis Varoufakis, ambos com 3,5%.
As sondagens também coincidem no recuo dos neonazis da CA, cuja direção está a ser julgada desde 2015 por assassínio e liderança de grupo criminal, de momento o terceiro partido no Parlamento mas que deverá perder metade do eleitorado, como sucedeu nas europeias de maio.
O beneficiado poderá ser a ND, que tenta concentrar os votos de toda a direita contra o Syriza, e o Solução Grega, que baseou o seu resultado na rejeição ao acordo de Prespa com o Governo de Skopje sobre a alteração do nome da Macedónia.
No entanto, esta alteração iminente na geografia política do país — apesar de Tsipras ter alertado para o regresso dos “dias negros” da austeridade — não provocará estranheza em parte considerável da população. A ND é a alternativa de sempre, e o seu líder pertence a um dos clãs políticos que historicamente tem dirigido o país.
Um dos motivos da esperança depositada em Tsipras, no poder desde 2015, foi a rutura com as “dinastias políticas” e os esquemas tradicionais da política grega, sempre presentes nos conservadores e nos sociais-democratas do Pasok, agora dissolvido no Movimento para a Mudança (Kinal).
A gestão política de Tsipras e do Syriza falhou num aspeto essencial: para além da falta de quadros políticos bem preparados para enfrentar a gestão do poder, o partido não conseguiu garantir uma base social estável e firme para transmitir as suas posições. Mesmo que o seu legado seja reconhecido, o primeiro-ministro não conseguiu seduzir parte importante da população grega.
Na sua análise à derrota de maio, o agora designado Syriza-Aliança Progressista considerou que os eleitores ignoraram a mudança de rumo após o fim do terceiro resgate em agosto de 2018, com a aprovação de medidas inseridas no seu programa inicial: restabelecimento dos contratos coletivos, subida do salário mínimo, descida do IVA, eliminação de um novo corte nas pensões.
Assim, admitem que grande parte das pessoas que votaram Syriza em 2015 optaram agora por não comparecer às urnas e o partido apenas conseguiu mobilizar 58% dos seus leitores. Uma tendência que se poderá repetir hoje e a causa decisiva para o regresso dos conservadores ao poder.
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