Maria da Conceição, 91 anos, chegou ao hospital cerca das 08:00 para uma consulta de ortopedia. Veio de Tomar com a esperança de que iria ser atendida, mas cerca das 09:15 ainda não tinha sido chamada, um quarto de hora após a hora marcada.

“Isto é um grande transtorno, mas o que podemos fazer?”, questionou.

Maria Cândida, reformada, veio da Amadora para fazer exames médicos, mas, poucos minutos após ter chegado ao hospital, soube que não os ia poder realizar, por os técnicos estarem em greve.

“É dinheiro que se gasta e tempo perdido”, lamentou Maria Cândida.

À entrada das consultas desta unidade do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), um cartaz e um pré-aviso de greve anunciavam o protesto “por aumentos salariais” e pelo “descongelamento da progressão das carreiras”.

Maria Luísa, 65 anos, tinha conhecimento da paralisação, mas decidiu arriscar e tentar fazer os exames marcados: análises e um eletrocardiograma. “Ainda foi mais rápido do que nos outros dias. Valeu mesmo a pena”, disse, com um sorriso.

Também Josefa Soares teve a consulta que já estava marcada há cerca de três meses, ao contrário de outra utente, que preferiu não dizer o nome, mas disse que, pela terceira vez, foi desmarcada a consulta. Apenas desta vez soube a razão da desmarcação.

Maria Isabel e o marido, na casa dos 80 anos, deixaram hoje o espaço das consultas do Hospital de São José a praguejar, afirmando que “não se deve brincar com a saúde”.

“Começou a aparecer o dinheiro exige-se dinheiro para tudo, mas não devia ser assim”, disse Maria Isabel à Lusa, admitindo, no entanto, que “as pessoas têm direito à greve”.

Maria Isabel estava à espera há três meses para realizar o exame de otorrinolaringologia, que agora ficou marcado para final de dezembro.

Apesar de morar em Lisboa, o casal lamentou a despesa com o táxi, além das dificuldades de locomoção que complicam uma ida ao hospital.

Na origem da greve nacional está a falta de respostas às reivindicações da Frente Comum, como o aumento dos salários na função pública, o descongelamento "imediato" das progressões na carreira e as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.

Esta é a terceira greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública com o atual Governo, e a primeira convocada pela Frente Comum de Sindicatos, segundo a listagem cedida pela estrutura sindical.

A primeira greve com o executivo de António Costa ocorreu em 29 de janeiro de 2016 e foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, assim como a de 26 de maio deste ano, que teve como objetivo reivindicar aumentos salariais, o descongelamento das carreiras, o pagamento de horas extraordinárias e a redução do horário de trabalho para 35 horas em todos os serviços do Estado.