Arminda Cunha aguardava, por volta das 10:00, na fila para o balcão de atendimento da consulta de oftalmologia sem certeza de ter consulta. Em declarações à agência Lusa, a sexagenária dividia-se entre a esperança de ser atendida ainda hoje e a compreensão face às razões que poderiam levar ao adiamento da marcação.
"Perceber percebo, mas causa muito transtorno. Vir cá, passar a manhã nisto e depois ir embora sem consulta. Mas têm de lutar. Tem de ser. Pior é para quem trabalha e perde o dia. Eu estou reformada, só perco a paciência", disse.
Em causa está uma greve nacional marcada pelas reivindicações da Frente Comum, como o aumento dos salários na função pública, o descongelamento "imediato" das progressões na carreira e as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.
Esta é a terceira greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública com o atual Governo e a primeira convocada pela Frente Comum de Sindicatos, segundo a listagem cedida pela estrutura sindical.
No Hospital de São João, dados apurados junto de profissionais de saúde e utentes, apontam que o bloco central fechou, logo as cirurgias terão de ser remarcadas, situação semelhante à que se passa no serviço de colheita de sangue.
José Teixeira, 47 anos, e a mulher vieram de Felgueiras para fazer análises, mas terão de regressar sem as fazer.
"Vim de propósito, mas não consegui fazer a recolha de sangue. São os gastos de transporte de duas pessoas, a vida mudada e adiada, é tudo mau", disse José Teixeira, criticando "a falta de informação sobre a greve".
Também Patrícia Torres, de Viana do Castelo, apresentou-se no hospital para uma consulta de hematologia clínica que não se realizou porque o médico aderiu à greve. Triste, também usa a palavra "transtorno" para descrever a situação.
"A consulta estava marcada há 15 dias e agora tenho de aguardar por nova convocatória. Faltei ao trabalho e paguei a deslocação para aqui e nada", desabafou.
Já o coordenador do Sindicato da Função Pública do Norte, Orlando Gonçalves, fez no São João, cerca das 10:45, um "bom" balanço desta greve por estar, disse, “a correr acima das expectativas" mas apontou o dedo à administração deste equipamento hospitalar.
"Este foi dos hospitais que mais pressionaram os trabalhadores por causa dos serviços mínimos. Tentaram coagir os trabalhadores, mas, ainda assim, a situação é muito positiva e a adesão é muito grande", disse à Lusa Orlando Gonçalves que acompanhava o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
A agência Lusa procurou uma reação junto da administração deste hospital, mas até ao momento não foi possível.
A adesão à greve no segundo turno dos hospitais e nas escolas estava, às 10:00 de hoje, próxima dos 100%, segundo a coordenadora da Frente Comum de sindicatos da Função Pública, Ana Avoila.
Os professores também estão a cumprir uma greve, convocada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) em defesa dos direitos, das carreiras, da estabilidade e dos salários.
A primeira greve com o executivo de António Costa ocorreu em 29 de janeiro de 2016 e foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, assim como a de 26 de maio deste ano, que teve como objetivo reivindicar aumentos salariais, o descongelamento das carreiras, o pagamento de horas extraordinárias e a redução do horário de trabalho para 35 horas em todos os serviços do Estado.
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