Em entrevista à Lusa, o Luís Lopes admite que "claramente o mundo mudou bastante", não só com a pandemia de covid-19, "mas mudou também em termos geopolíticos", com uma "maior polarização entre os EUA e a China.
Instado a comentar o tema, o CEO admite que "o efeito prático no setor das telecomunicações desta guerra comercial entre a China e os EUA tem obviamente impacto porque a cria sempre maiores restrições do ponto de vista dos operadores de alguma escolha que possam querer fazer, da melhor tecnologia".
Desse ponto de vista, "não acho que tenha trazido nada de positivo para o setor das telecomunicações", defende o CEO da Vodafone Portugal.
"Gostaríamos, como setor, de que obviamente esses aspetos geopolíticos não contaminassem tanto o setor", lamenta.
Mas "estamos conscientes de que vivemos numa realidade internacional como a que vivemos hoje em dia e, portanto, temos que sempre tentar adaptar a essa realidade", admite o gestor, que cumpriu um ano na liderança da subsidiária portuguesa este mês.
Desafiado a comentar se partilha da visão do professor catedrático do IST Arlindo Oliveira, que numa entrevista à Lusa no início do mês, criticou a posição de Portugal em banir a Huawei, considerando que "não é justificada", advertindo que a redução da concorrência tem sempre impacto no custo para o consumidor, o gestor abordou a questão concorrencial.
Se a questão é sobre "a redução da concorrência se traduzir em custos de produção de telecomunicações mais caros" e "os operadores vão ter que refletir esses custos mais tarde ou mais cedo nos preços finais que praticam aos consumidores (...), se for nesse contexto, sim", diz.
"Uma redução da capacidade de escolha diria que também pode impactar na própria qualidade, porque menos escolha poderá não ser a melhor opção tecnológica que se toma em todos os momentos e, portanto, nesse sentido, pode não ser positivo também para os consumidores de usufruírem da melhor tecnologia possível", considera.
Já sobre se existe um número ideal de operadores para o mercado português, Luís Lopes escusou-se a detalhar.
"A concorrência é extraordinariamente saudável e é do interesse de todos, portanto, eu não advogo, nem acho que não haja concorrência", diz.
Agora "a pergunta entre menos ou mais operadores, tem que existir um balanço entre demasiados poucos operadores e não haver concorrência, um ou dois operadores provavelmente estaremos nesse campo, mas se existirem cinco/seis operadores, todos a construir redes, todos a investir a provavelmente num país da dimensão de Portugal, eu julgo que também não vai ser positivo, nem no médio, nem no longo prazo", considera.
Isto "porque não vai ser possível ter rentabilidade suficiente para esses investimentos".
No que respeita a inteligência artificial (IA), a Vodafone vê a tecnologia como "bastante positiva para as atividades" que desenvolve como empresa e também para as atividades dos seus clientes.
Esta tecnologia permite "muitas melhorias que podem ser feitas em muitos aspetos do nosso negócio", afirma Luís Lopes.
Mesmo na área da desinformação, esta ferramenta "tem capacidades para melhorar muitas coisas", apesar de poder ser usada por "maus agentes", refere.
"Estamos muito atentos como empresa também a estas situações, portanto, não é só desinformação, mas de utilização destas ferramentas para fraude", onde se inclui a cibersegurança e ataques como o 'phishing' e outro tipo de situações "que cada vez são mais frequentes".
Estas ferramentas "hoje em dia ajudam-nos muito a fazer deteções o mais rápido possível, alertar pessoas, alertar clientes deste tipo de casos que estejam a acontecer e aqui a parte de formação e de educação às próprias pessoas nunca foi tão premente", sublinha, apontando a importância das competências digitais.
A evolução "não para e, portanto, sentimos essa responsabilidade de ajudar os nossos clientes também a fazerem essa evolução, essa aprendizagem", conclui.
Questionado sobre o impacto dos atuais conflitos no negócio de telecomunicações, Luís Lopes refere que isso é inevitável.
"Começo por dizer que é obviamente sempre muito triste e lamentável estas situações de guerra: desde há dois anos na Ucrânia e agora há seis meses no Médio Oriente", lamenta, apontando que essa é a preocupação "número um".
Depois, há os impactos que "essas guerras têm (...) no que são as nossas cadeias logísticas", sublinha, com "custos adicionais" e "maior demora entre determinadas componentes ou bens chegarem a nós quando são importados e envolvem esse tipo de rotas", prossegue, aludindo aos constrangimentos no Mar Vermelho.
"Mas fazemos sempre tudo o que é diversificação, estratégias de diversificação para que esse tipo de situações não tenham impacto muito significativo na nossa operação, porque também não podemos correr o risco de repente" acontecer "uma guerra num determinado sítio" e "param as telecomunicações", explica.
A diversificação "permite mitigar esse risco", remata.
Alexandra Luís, Agência Lusa.
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