Guimarães, Porto e Lisboa foram escolhidas para o programa da Comissão Europeia Missão Cidades, que em abril de 2022 escolheu 100 cidades para lhes atribuir 360 milhões de euros rumo à neutralidade carbónica até 2030. Destas três, apenas Guimarães integrará o primeiro projecto da NetZeroCities. Um projeto com o objetivo de desenvolver as acções nos próximos dois anos, financiadas pelo programa Horizonte 2020, com 990 mil euros destinados a Guimarães.

Para o município, segundo a vereadora do ambiente Sofia Ferreira explicou ao SAPO24, é uma "enorme satisfação e um reconhecimento de todo o trabalho que o município de Guimarães tem vindo a desenvolver", acrescentando que também estão a "fechar" uma nova candidatura a Capital Verde Europeia, utilizando como rampa de lançamento o projeto desenvolvido no programa NetZeroCities.

A NetZeroCities consiste num projeto-consórcio de 33 parceiros europeus que apoia, através da plataforma EU Cities Mission, 112 cidades europeias na redução das emissões de gases com efeito de estufa. Assim sendo, o programa Cidades Piloto tem como objetivo pôr em prática novas soluções que permitam descarbonizar rapidamente os centros urbanos.

Guimarães, juntamente com outras Cidade Piloto europeias, terá a oportunidade de implementar ações sistémicas, localmente desenhadas e transversais a diversas áreas de atuação: energia térmica, gestão de resíduos, uso do solo, eletricidade e edifícios, processos industriais, e mobilidade e transportes. Nos próximos dois anos, o projeto pretende "a mudança comportamental, a inovação social e a criação de novos modelos de negócio, financiamento sustentável e tecnologias verdes, tudo em busca de um futuro mais limpo e saudável”, explica Sofia Ferreira.

Para levar este projeto em frente, o município de Guimarães pretende ter o forte apoio dos cidadãos, colocando-os como uma "das principais peças porque o vimaranense, com o seu espírito muito intervertido, é um dos pontos principais".

O 'Distrito C', projeto aprovado pela NetZeroCities, é uma área no centro de Guimarães que servirá como laboratório para a implementação de "um bairro completamente neutro" em termos de carbono: "O Distrito C será um laboratório para testarmos em diferentes áreas, como a mobilidade, a energia, na área dos resíduos e uso do solo, sempre com o envolvimento do cidadão e permitindo que depois as experiências e os projetos desenvolvidos nesta área possam ser replicados em todo o território do concelho", explica Sofia Ferreira.

Em termos das principais medidas a ter em conta, para já, a mobilidade é destacada pela vereadora. Com a requalificação da antiga fábrica, a Fábrica do Arquinho, onde irá funcionar a Escola de Engenharia Aeroespacial da Universidade do Minho, o transporte público torna-se ainda mais essencial. Para esta questão, o camarário já dobrou a frota de autocarros elétricos. Quanto ao projeto do 'Distrito C', este pretende implementar e ajudar certas faixas etárias, para assim incentivar ao uso do transporte público, retirando assim o uso do transporte privado.

"Nós iniciamos em 2021 a nova concessão do transporte público, com um forte investimento por parte do município e hoje já contamos com uma oferta maior de rotas, introduzimos 26 novos veículos elétricos, quando só tínhamos um. Desde logo, temos para os estudantes, até ao ensino superior, o transporte gratuito, um apoio a idosos. Esse é um incentivo ao transporte público, mas queremos fazer mais, estando a concluir um estudo para que no futuro este seja gratuito", explica Sofia Ferreira. Outra medida para o incentivo ao não uso do transporte privado tem sido o de implementar um sistema de uso de partilha de velocípedes (bicicletas e trotinetes elétricas).

Para além da mobilidade, o município pretende promover um orçamento participativo destinado "ao clima e à sustentabilidade". Também no Distrito C, onde passa a ribeira de Couros, há a implementação de "sistemas de monitorização e de controlo de água" em parceria com o Laboratório da Paisagem. Para além deste controlo, Sofia Ferreira colocou o ênfase também na educação e nas ações em "escolas" através do programa PEGADAS -  promovido pelo Laboratório da Paisagem e pela Câmara Municipal de Guimarães em colaboração com um conjunto de parceiros locais, nacionais e europeus, que assenta na estratégia para o concelho ao nível do desenvolvimento sustentável e promoção das políticas para o ambiente, ecológicas e inclusivas. Este é um programa dedicado à educação ambiental, constituindo fator para o incremento de práticas comunitárias assentes em princípios ecologicamente sustentáveis, pretendendo iniciar uma mudança de paradigma no comportamento e no modo de estar das pessoas.

Itália, com nove Cidades Piloto, é o país mais representado no programa, seguindo-se os Países Baixos e Espanha, ambos com sete. Além de Portugal (com Guimarães) também integram a lista localidades da Alemanha, Hungria, Roménia, França, Irlanda, Grécia, Polónia, Eslovénia, Finlândia, Bélgica, Chéquia, Chipre, Suécia, Reino Unido, Noruega, Turquia e Ucrânia.É esperado que, ao longo de dois anos, as cidades escolhidas reflitam, aprendam e façam os ajustes necessários, e que outras cidades sigam o seu exemplo, algo que Sofia Ferreira concorda e afirma a abertura do município para explicar e mostrar todas as iniciativas.

"Nós estamos sempre disponíveis para partilhar as nossas experiências. Temos sido, nos últimos anos, solicitados pela nossa gestão dos resíduos. Porque no final, temos de ganhar todos uns com os outros, é algo muito importante", finalizou Sofia Ferreira.