Em declarações aos jornalistas, em Luanda, após uma audiência com o Presidente angolano, João Lourenço, Simões Pereira referiu que o Presidente senegalês, Macky Sall, "assumiu num ‘tweet' pessoal que a CDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) deveria mobilizar as forças para impor o Presidente que ele acha que devia ser colocado na Guiné-Bissau, a exemplo do que já tinha feito na Gâmbia".

"A Guiné-Bissau é um Estado soberano, independente, a proclamação da independência da Guiné-Bissau custou vidas e é importante que todo o mundo compreenda que os guineenses não vão permitir que um Presidente lhe seja imposto, que não corresponda àquilo que é a vontade do povo guineense", afirmou o candidato apontado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) como derrotado nas eleições.

Domingos Simões Pereira, também presidente do Partido Africano para a Independência da guiné e Cabo Verde (PAIGC), referiu que explicou a situação política da Guiné-Bissau ao Presidente angolano, considerando que “há outros interesses por detrás do contencioso eleitoral” e que “a questão que se está a debater neste momento na Guiné-Bissau não se resume à disputa eleitoral".

"Os outros interesses são de países que assumem ter uma agenda para a Guiné-Bissau. Se eu disser que no meio deste contencioso eleitoral há um país vizinho da Guiné-Bissau que assume que vai lançar o leilão de plataformas de exploração petrolífera, incluindo plataformas petrolíferas que estão dentro do território da Guiné-Bissau, acho que isso dá alguma ideia daquilo que está a acontecer connosco", frisou.

Simões Pereira referiu que o Presidente angolano o "ouviu com muita atenção" e "colocou várias questões".

"E tal como eu, quando descobrimos - penso que todo o mundo ficou surpreendido - também ele ficou surpreendido com esta quantidade de evidências, e apesar disso uma determinação em contrariar as leis da Guiné-Bissau", referiu.

O político sublinhou que com a decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), cumprida a questão da abertura das urnas e recontagem dos votos, aceitará "qualquer resultado, mas nunca imposto de fora ou por vontades por outros interesses".

"Somos legalistas, somos democratas, e sendo aquilo que é a escolha feita pelo povo guineense, nós aceitaremos qualquer resultado", disse.

De Angola, Domingos Simões Pereira disse esperar o apoio de sempre, "que é o acompanhamento, entre Estados irmãos, como é o caso da relação entre Angola e a Guiné-Bissau".

"O que nós esperamos é que, quando todos se dizem cansados, Angola não esteja cansada de ouvir a Guiné-Bissau, quando todos podem estar cansados de nos acompanhar, Angola demonstre não estar cansada de acompanhar a Guiné-Bissau, é isto que o povo guineense quer ouvir, quer sentir, para que tenha as forças necessárias, as energias necessárias, para fazer valer a sua independência", salientou.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau confirmou na terça-feira os resultados das eleições presidenciais e a vitória de Umaro Sissoco Embaló, tendo rejeitado as reclamações apresentadas pelo representante da candidatura de Domingos Simões Pereira.

O STJ da Guiné-Bissau ordenou à CNE que fizesse um novo apuramento nacional dos resultados após um recurso interposto pelo candidato apontado como derrotado, Domingos Simões Pereira, alegando fraude e irregularidades no processo.

A CEDEAO ameaçou impor sanções a quem perturbasse o processo eleitoral e apelou ao diálogo entre a CNE e o STJ para resolver o contencioso eleitoral.

Segundo o apuramento nacional da segunda volta das eleições presidenciais de 29 de dezembro, Sissoco Embaló venceu o escrutínio com 53,55% dos votos, enquanto Domingos Simões Pereira obteve 46,45%.

A candidatura de Domingos Simões Pereira apresentou hoje um novo recurso de contencioso eleitoral no STJ, que na Guiné-Bissau tem também função de tribunal eleitoral.