Pelas 11:00, a fila para votar começava a formar-se logo ao início da Rua de Alcolena, com poucas sombras para as pessoas se refugiarem do calor que já se fazia sentir.

A polícia chegou ao local pelas 06:00, altura em que também começaram a chegar os primeiros eleitores, que só começariam a votar dali a duas horas, quando as urnas abrissem.

Logo nesse primeiro momento, houve que acalmar os ânimos, contou à Lusa o agente Almeida, que pacientemente ouvia as queixas de vários eleitores, desde aqueles que diziam que tinham de ir trabalhar aos que apontavam o dedo a alegados fura-filas.

“Depois fizemos uma caixa de segurança [na entrada] e ficou tudo calmo e ordeiro”, disse o polícia.

“Vota! Bu voto ta fassi diferença”, crioulo que constata a diferença que pode fazer um voto, é a frase inscrita na ‘t-shirt’ de um dos voluntários que, na entrada, tentam ajudar a agilizar o processo.

À hora a que a Lusa chegou ao local, estava quase a chegar a vez de Alexandre Fernandes, na fila há três horas.

Este eleitor guineense, em Portugal há 24 anos, confirma que “já houve” confusão por ali.

As pessoas “começaram a não se compreender”, mas depois as coisas pacificaram.

“A polícia teve que intervir e começou a organizar de melhor forma e agora está a andar devidamente”, relatou. Alexandre não duvida de que “vale a pena” a espera para votar, esperando “o melhor para o país e para o povo guineense”.

Alexandre considera que “a Guiné está a passar alguns momentos muito difíceis e atribulados” e saúda que tanta gente tenha decidido ir votar, o que vê como um sinal de “querer mudar alguma coisa”.

Florzinha Monteiro, cônsul da Guiné-Bissau em Portugal, vem buscar a equipa da Lusa para entrar e faz “um balanço positivo” na votação.

Ainda não tem ideia da taxa de afluência, mas arrisca dizer que, “pela vontade” que observa junto à embaixada, “vai ultrapassar os 50%”. Das 20 mesas de voto existentes em Portugal, 17 situam-se em Lisboa e arredores, duas no Algarve e uma no Porto.

Mas “a grande maioria” dos 7.789 guineenses recenseados em Portugal vota nas sete mesas que existem dentro da embaixada, destaca a cônsul, para o dia de hoje também presidente da Comissão Nacional de Eleições da Guiné em Portugal.

“Temos muita gente aqui porque todo o mundo veio recensear-se aqui e como o processo de votação é votar onde se recenseou, é por isso que temos esta multidão toda”, explica.

Na mesa 3, onde estão registados 388 eleitores, o fluxo de voto faz-se com alguma rapidez e cumprem-se os critérios da prioridade para crianças pequenas, por exemplo.

Depois de confirmado o nome nos cadernos, os eleitores dirigem-se a uma espécie de palanque, tapado por um pano típico da Guiné. No final, pintam o dedo com tinta indelével, para registar que já votaram.

As pessoas “vieram com bom ânimo” e “estão a colaborar com a parte logística”, considera a voluntária Sambique Bidiandé, explicando que “o problema” é que a fila não está organizada por mesas e as pessoas não sabem onde votam.

“Temos que permitir que as pessoas das mesas vazias possam entrar, mas os que estão à frente não as querem deixar passar. E fica difícil fazer-lhes compreender”, relata.

Os voluntários também dão “uma ajudinha” a idosos e pessoas com dificuldades de mobilidade a descerem as escadas de acesso às mesas. Florzinha Monteiro reconhece que é urgente fazer obras na Embaixada para facilitar o acesso.

A cônsul não está surpreendida com a mobilização. “O povo da Guiné gosta de votar (…). Um voto faz diferença”, realça, apelando à participação.

“Temos que deixar a última pessoa votar, nem se for às oito da noite. Desde que esteja [na fila] até às 17:00, pode ter a certeza de que vai votar. Nem que seja até amanhã”, garante.

Já Rui Pinto Ribeiro, coordenador do círculo Diáspora Europa do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), um dos 20 partidos e duas coligações que concorrem a estas eleições legislativas, reconhece ter ficado “surpreso” com a adesão.

“Assisti a várias eleições cá e (…) nunca tinha acontecido [esta participação]”, nota.

O político está também “feliz” com “o interesse dos guineenses na diáspora poderem participar, de uma forma direta” no destino do país.

“Fortalecer a democracia e consolidar o Estado democrático” são os maiores desafios para a Guiné, aponta. “Se isso não for possível, tudo o resto que vem alavancar o desenvolvimento não se consegue executar”, realça, admitindo as carências sociais e económicas do país,

Cerca de 900 mil guineenses escolhem hoje os 102 deputados ao parlamento e o futuro governo do país.

Nas últimas legislativas, realizadas em 2019 e que o PAIGC venceu, o Madem-G15 foi a segunda força mais votada, obtendo 27 dos 102 deputados no parlamento.

O Madem-G15 passou a integrar o Governo em 2020, depois de o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, ter demitido o executivo liderado pelo PAIGC e formado um novo.

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