Na abertura da Cimeira da Ambição Climática, em Nova Iorque, Guterres não identificou essas empresas, mas indicou que recorreram à “riqueza e influência” para “atrasar, distrair e enganar” a transição para emissões líquidas zero.
“Promessas duvidosas traíram a confiança do público. (…) Todas as empresas que realmente fazem negócios devem criar planos de transição justos que reduzam as emissões (de gases com efeito de estufa) de forma credível e proporcionem justiça climática”, defendeu.
Focando-se nas alterações climáticas, Guterres afirmou que a “humanidade abriu as portas do inferno” e que o “calor terrível está a ter efeitos terríveis”.
O ex-primeiro-ministro português recordou que agricultores estão a ver as suas colheitas levadas por enchentes, que as elevadas temperaturas estão a gerar doenças, e que milhares de pessoas fogem de grandes incêndios cada vez mais frequentes.
“A ação climática é ofuscada pela escala do desafio. Se nada mudar, caminharemos para um aumento da temperatura em 2,8 graus — para um mundo perigoso e instável”, declarou.
“Mas o futuro não está fixo. Cabe a líderes, como vocês, escrevê-lo. Ainda podemos limitar o aumento da temperatura global em 1,5 graus. Ainda podemos construir um mundo de ar puro, empregos ‘verdes’ e energia limpa acessível para todos”, acrescentou, num tom de esperança.
De acordo com o líder das Nações Unidas, “o caminho a seguir é claro” e foi forjado por “lutadores e pioneiros” – alguns presentes da sala -, como ativistas que se “recusam a ser silenciados”; povos indígenas que defendem as suas terras dos eventos climáticos extremos; executivos que transformam os seus modelos de negócio; financiadores que pagam por uma transição verde; autarcas que avançam para um futuro com zero emissões de carbono; e Governos que trabalham para eliminar os combustíveis fósseis e proteger as comunidades vulneráveis.
Guterres convocou esta cimeira de alto nível durante a 78.ª Assembleia Geral da ONU para instar os líderes de Governos, empresas, cidades e regiões, sociedade civil e instituições financeiras a tomarem medidas em prol da ação climática.
“Temos de recuperar o tempo perdido com a lentidão, a torção de braços e a ganância nua e crua de interesses enraizados que arrecadam milhares de milhões com os combustíveis fósseis”, advogou.
Tendo em conta esse objetivo, o líder da ONU quer que os países desenvolvidos alcancem a neutralidade nas emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2040, e as economias emergentes até 2050.
Insta também, entre outras medidas, os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a abandonarem o carvão até 2030 e o resto do mundo até 2040, exigindo ainda o fim dos subsídios para os combustíveis fósseis.
O secretário-geral da ONU salientou que muitas nações pobres “têm todo o direito de estar furiosas”, por serem as que mais sofrem com uma crise climática que nada fizeram para criar e porque o financiamento que lhes foi prometido não se concretizou.
“Precisamos de uma transformação para reconstruir a confiança. Os Governos devem impulsionar o sistema financeiro global no sentido de apoiar a ação climática”, defendeu, no arranque da Cimeira, que contará com a presença do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros líderes.
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