“Este é um momento para nos unirmos e trabalharmos juntos”, apelou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) durante a sua intervenção na 15ª cimeira dos países BRICS, que hoje termina em Joanesburgo, África do Sul.
“Mas, em vez disso, as divisões estão a crescer e as tensões estão a aumentar”, alertou.
Guterres apontou vários fatores que, na sua ótica, contribuem para estas divisões: “Perspetivas divergentes sobre as crises globais, abordagens contrastantes às ameaças à segurança não tradicionais, estratégias diferentes em relação às novas tecnologias e, claro, as consequências da covid-19 e da invasão da Ucrânia pela Rússia”.
“Continuo profundamente preocupado com o risco de uma rutura da ordem global, estamos a entrar num mundo multipolar”, salientou.
O secretário-geral da ONU insistiu que “o nosso mundo está numa situação difícil”, afirmando que a humanidade enfrenta “desafios existenciais” desde o agravamento da emergência climática e a escalada dos conflitos até à crise global do custo de vida, ao aumento das desigualdades e às dramáticas perturbações tecnológicas.
Sobre os apelos dos líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para “reformas profundas” das instituições globais, como as Nações Unidas e o seu Conselho de Segurança, e o sistema financeiro global, António Guterres defendeu que “o mundo mudou e a governação global deve mudar com ele”.
“Até hoje, o continente [africano] está sub-representado na arquitetura financeira global, tal como não tem um assento permanente no Conselho de Segurança”, afirmou.
“É por isso que tenho defendido reformas profundas para tornar os quadros globais verdadeiramente universais e representativos das realidades atuais, e mais sensíveis às necessidades das economias em desenvolvimento”, justificou António Guterres.
Na sua intervenção, o ex-primeiro-ministro socialista português salientou que “os países desenvolvidos têm uma responsabilidade especial que devem liderar e cumprir”.
Nesse sentido, Guterres elencou como prioridade “a promessa de 100 mil milhões de dólares [cerca de 92 mil milhões de euros] aos países em desenvolvimento” e a “reposição do Fundo Verde para o Clima”, entre outros, afirmando que “por uma questão de justiça, África deve ser considerada uma prioridade em todos estes compromissos cruciais”.
“Cada país tem um papel a desempenhar”, referiu, acrescentando que são necessárias “medidas para salvar as economias e reduzir as desigualdades”.
Na África do Sul, que enfrenta uma crise energética sem precedentes, o secretário-geral da ONU também elogiou Pretória por “ser pioneira da Parceria Energética para uma Transição Justa, uma ferramenta crucial para desbloquear cortes de emissões, impulsionar as energias renováveis e fazer crescer a economia verde”.
Guterres apelou também aos bancos de desenvolvimento multilateral a alterarem os seus “modelos de negócio”, por forma a alavancarem “muito mais financiamento privado para o mundo em desenvolvimento”, que na sua ótica necessita de cooperação fiscal internacional “mais inclusiva” e “efetiva”.
“E trabalhar em conjunto para impedir os fluxos financeiros ilícitos que estão a drenar recursos vitais do continente africano”, concluiu o secretário-geral da ONU.
Na véspera da reunião anual dos BRICS, o chefe de Estado sul-africano reiterou o apoio da África do Sul às Nações Unidas, sublinhando que esse apoio existe ao lado da “firme convicção de que esta importante instituição multilateral precisa de uma reforma genuína para se tornar mais democrática, representativa e eficiente”.
“O Conselho de Segurança das Nações Unidas deve ser transformado num órgão mais inclusivo, mais eficaz, capaz de garantir a paz e a segurança”, advogou.
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