O pedido de ajuda lançado pela SOS Aldeias Infantis visa sobretudo meninas refugiadas sírias, o último grupo a juntar-se a estes campos onde o desespero, a pobreza e os abusos sexuais são uma realidade.
Segundo dados divulgados pelo El Mundo, se antes da guerra da Síria o número de casamentos arranjados, em que um dos cônjuges é menor de 18 anos, era de 13%, nos campos de refugiados esse número sobe para os 51%. De acordo com a organização, os maridos têm, no mínimo, mais dez anos do que as meninas.
Apesar de as causas serem variadas há um denominador comum, na opinião de Vanessa Schwake, porta-voz adjunta da SOS Aldeias Infantis: são casamentos forçados que violam os direitos das crianças e que podem conduzi-las a sérios problemas de saúde - através de uma gravidez precoce que pode levar a depressão ou tentativa de suicídio. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, a segunda causa de morte destas meninas com casamentos arranjados é o parto, seguida pelo suicídio.
As meninas “casam em trocam de um dote que pode rondar os 4.000 dólares (cerca de 3500 euros)”, o que se traduz em “muito dinheiro para famílias que perderam tudo e que não têm perspetivas de futuro”, explicou Vanessa Schwake.
Alia Al-Dalli, diretora da organização no Médio Oriente, complementou que “o dote é um fator decisivo para casar uma filha”, uma vez que, para além de ser uma forma de sair da pobreza, “muitos pais acreditam que o casamento é uma forma de proteger as meninas de abusos sexuais nos acampamentos”.
Alia Al-Dalli destacou que “temos de impedir o casamento de crianças e a melhor maneira é explicar aos pais e às crianças as consequências de uma união que pode ter consequências terríveis”, entre as quais o abandono escolar, o isolamento social, a violência de género ou exclusão e fardo social e familiar, no caso de divórcio, o que obriga ao regresso a casa dos pais.
A SOS Aldeias Infantis recomenda aos governos que proíbam o casamento de menores nos campos de refugiados, advertindo que essas uniões podem não ser legais nos países onde esperam ser acolhidos, como é o caso da Suécia, que não reconhece estes casamentos. “Quando um casal pede o asilo ou o estatuto de refugiado, se um dos cônjuges é menor, eles são separados automaticamente”, conclui Vanessa Schwake.
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