“Desde o tempo da primeira chamada até que chegou a primeira equipa de emergência médica, uma ambulância, passaram praticamente duas horas […]. Se o socorro tivesse sido realizado atempadamente, as probabilidades de sobrevivência deste homem de 64 anos seriam, com certeza, muito maiores”, afirmou o presidente do STEPH, Rui Lázaro, em declarações à agência Lusa.
A situação ocorreu na segunda-feira, na freguesia de São Sebastião, no concelho e distrito de Setúbal, com um homem de 64 anos, para quem foi pedida assistência médica, através da linha de emergência 112.
A primeira chamada foi às 10:06, mas a mesma terá ficado em espera, tendo sido devolvida pelas 11:15, informou o presidente do SETPH, referindo que, segundo a linha do tempo, a ambulância foi despachada às 11:22 e a equipa da ambulância chegou junto da vítima às 12:05.
Aquando da chamada de retorno após a primeira se ter perdido, a linha do tempo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) registou que “a vítima estava consciente, que respirava, que reagia, inclusive ao toque e à dor”, apontou.
“Quase duas horas depois da primeira chamada, quando a primeira equipa de ambulância chega ao local verifica que o senhor estaria já em paragem cardíaca. Terão imediatamente iniciado manobras de reanimação, depois auxiliados por uma viatura de emergência médica de Setúbal, que se deslocou também ao local e que realizou inclusive manobras de SAV [Suporte Avançado de Vida], mas sem sucesso”, indicou Rui Lázaro, acrescentando que o óbito foi declarado no local pelas 12:53.
A Lusa solicitou um esclarecimento do INEM sobre o caso deste homem de 64 anos, assim como outras situações de atrasos na prestação de socorro a nível nacional, aguardando ainda uma resposta.
Este desfecho fatal “é já o terceiro caso de uma pessoa que morre enquanto espera por assistência médica”, desde o verão deste ano, revelou o sindicalista, referindo que, além de Setúbal, as outras mortes foram uma em Lisboa e uma em Faro.
O presidente do STEPH afirmou que continua a receber várias denúncias de atrasos no envio de ambulâncias para diversas ocorrências, um pouco por todo o país, incidindo sobretudo nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Norte.
Nos últimos dias, já durante o mês de dezembro, foram “várias dezenas” de denúncias, realçou Rui Lázaro, destacando como “grande preocupação” as situações como a registada em Setúbal.
O sindicato STEPH começou a denunciar os atrasos na resposta de emergência médica no início deste ano, situação que “tem sido sempre negada” pelo Conselho de Administração do INEM.
“Durante o verão, tínhamos recebido já mais de 1.000 denúncias de atraso no socorro, o que motivou a que apresentássemos, inclusive no Ministério Público, uma denúncia contra o INEM e contra o seu presidente por estes atrasos. Efetivamente, o número de denúncias rececionadas por esta associação sindical tem vindo a aumentar, nota também que já demos ao novo ministro da Saúde, a quem pretendemos também fazer chegar, através de relatório, esta denúncia que nos foi feita chegar, em que se pode verificar que um homem faleceu de facto enquanto esperava por equipas de emergência médica”, adiantou.
Rui Lázaro disse que, “infelizmente, têm sido batidos os recordes” dos tempos de espera e, as denúncias recebidas na última semana, “muitas delas” são de “situações em que só foi encontrada uma ambulância disponível para enviar posteriormente para o local passadas duas horas da chamada inicial”.
“Além da falta de técnicos de emergência pré-hospitalar, que tem originado a que diariamente várias ambulâncias estejam encerradas, há também o deteriorar do sistema de emergência médica e o deteriorar das condições do INEM, o que se tem verificado ao longo dos últimos anos”, frisou o sindicalista.
Neste momento, o sistema de emergência médica está “muito próximo de uma rutura efetiva”, disse, considerando que, “quando chega ao ponto de se ter já pessoas que morrem enquanto esperam mais de duas horas por assistência médica, é um ponto já que requer uma intervenção imediata da tutela”.
O sindicato STEPH vai dar conhecimento da situação ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, “exigindo que tome medidas e que apure as devidas responsabilidades políticas do Conselho de Administração do INEM, que está mais que provado que não tem condições para continuar a dirigir o instituto”.
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