E na faixa etária dos 15 aos 29 anos o mesmo tipo de crime correspondeu a 47,8% do total de óbitos.

Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, citados pelo Ipea, referem que entre 2005 e 2015 registou-se um aumento de 17,2% na taxa de homicídio na faixa etária entre os 15 e os 29 anos.

“Apesar de esse fenómeno ser denunciado há anos por organizações não-governamentais de direitos humanos e movimentos sociais, e de recentemente ter entrado na agenda estatal com a Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado sobre o assassinato de jovens, o Estado brasileiro ainda não foi capaz de formular e implementar um plano nacional de redução de homicídios”, lê-se no Atlas da Violência.

Mais de 318 mil jovens brasileiros foram assassinados entre 2005 e 2015.

Estas estatísticas indicam dois problemas: a perda de vidas humanas e a falta de oportunidades educacionais e laborais que condenam os jovens a uma vida de restrição material e de anomia social, que terminam por impulsionar a criminalidade violenta.

Outro dado relevante revelou que por cada 100 pessoas mortas por homicídio no Brasil, 71 são negras.

Assim, jovens e negros do sexo masculino continuam a ser assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra.

Ao analisar a evolução das taxas de homicídios do Brasil, considerando se o indivíduo era negro ou não, entre 2005 e 2015, verificou-se que houve um crescimento de 18,2% na taxa de homicídio de negros, enquanto a mortalidade de indivíduos não negros diminuiu 12,2%.

“Não apenas temos um triste legado histórico de discriminação pela cor da pele do indivíduo, mas, do ponto de vista da violência letal, temos uma ferida aberta que veio se agravando nos últimos anos”, pontuou o Ipea.

A análise indicou ainda que 4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil em 2015, o que corresponde a uma taxa de 4,5 mortes por cada 100 mil mulheres.

“Ainda que, em termos de letalidade violenta, as mulheres sejam menos afligidas, este número representa uma pequena ponta do icebergue das centenas de milhares de violências (físicas, psicológicas e materiais) que afligem a população feminina”, destaca-se no Atlas da Violência.

No Brasil, o uso da arma de fogo como instrumento para perpetrar homicídios atingiu uma dimensão apenas observada em poucos países da América Latina.

O levantamento mostrou que em 2015 41.817 pessoas sofreram homicídio pelo uso das armas de fogo, o que correspondeu a 71,9% do total de casos.

Se comparado com a Europa, por exemplo, esse índice é bastante divergente e encontra-se na ordem de 21%.

Levando em conta todas as faixas etárias, houve 59.080 homicídios registados no Brasil em 2015, número que equivale a uma taxa de 28,9 homicídios por cada 100 mil habitantes.

“Tal índice revela, além da naturalização do fenómeno, um descompromisso por parte de autoridades nos níveis federal, estadual e municipal com a complexa agenda da segurança pública”, salienta-se no documento.

“Trata-se de um número exorbitante, que faz com que em apenas três semanas o total de assassínios no país supere a quantidade de pessoas que foram mortas em todos os ataques terroristas no mundo, nos cinco primeiros meses de 2017, e que envolveram 498 casos, resultando em 3.314 indivíduos mortos”, concluiu o Ipea.