“A ideia é alargar o conceito de saída do hospital e de alargamento dos cuidados hospitalares para lá daqueles que são proporcionados pelo internamento”, disse à Lusa António Oliveira e Silva sobre um programa que se chama “São João em Casa” que, além de reabilitação, cuidados e formação, incluirá tratamento de feridas.
Dando um exemplo prático, imagine-se um doente que sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e que precisa de fazer reabilitação, mas muitas vezes vai para casa e não consegue logo vaga num prestador.
“E o paciente está um ou dois meses sem fazer reabilitação, perdendo todo o investimento que foi feito na fase aguda”, lamentou o diretor, acrescentando que o Hospital de São João tem enfermeiros e técnicos especialistas em reabilitação que podem, nesse período de tempo e com este programa, ir a casa do doente fazer essa reabilitação, isto num contexto de não internamento.
Salvaguardando que o objetivo é intervir em áreas sem sobreposição com os cuidados primários, António Oliveira e Silva disse que a ideia é alargar o que até aqui é feito pelo serviço de Hospitalização Domiciliária e incluir na linha de prioridades também o cuidador.
“Tratamos de doentes com muitas doenças crónicas e muitas comorbilidades, muitos deles dependentes, muitos deles que precisam de cuidadores permanentes ou, pelo menos, muitas horas por dia. E é muito difícil, de um dia para o outro, e mesmo no regime de internamento domiciliário, fazermos o ensino aos cuidadores (…). O cuidador está sujeito a uma exaustão que às vezes as pessoas não se apercebem. Temos de cuidar deles também e evitar que atinjam o limite ou identificar sinais de alarme, de alerta”, disse o diretor.
Com o “São João em Casa”, serão criadas sessões para abordar aspetos como a saúde do cuidador ou o apoio a dar com “aulas” sobre como levantar um doente da cama ou como dar banho, alimentar, transferir da cama para a cadeira.
O serviço de Hospitalização Domiciliária do Hospital de São João, centro hospitalar que faz parte da Unidade Local de Saúde de São João, no Porto, tem sede no polo de Valongo.
Em cinco anos de atividade, o serviço percorreu mais de 211 mil quilómetros até ao domicílio de 1.220 utentes, dos 18 aos 105 anos de idade, num total de 14 mil visitas.
O tempo médio de internamento é de 9,9 dias e a taxa de retorno ao hospital de 4,4%.
À Lusa, António Oliveira e Silva, que coordena o serviço desde setembro de 2022, explicou que “o doente internado em casa tem acesso a todos os meios e recursos humanos, analíticos, consultas, e tudo o que é preciso como em um internamento hospitalar”.
“A intensidade de cuidados, se não igual, pelo menos é semelhante, de acordo com a situação clínica”, resumiu.
Fazendo um balanço positivo destes cinco anos, o diretor confessou que, inicialmente, teve “dúvidas sobre a exequibilidade” da hospitalização domiciliária.
“Sempre me passou um bocadinho pela cabeça que para termos um doente em casa que precisasse de cuidados hospitalares, seriam necessários recursos que não estão ao alcance da maioria da nossa população, uma população pobre que tem dificuldade em arranjar alguém que possa deixar de trabalhar e ser cuidador (…). Mas é muito muito raro termos uma impossibilidade de internamento domiciliário por não termos conseguido cuidador ou falta de condições em casa. As pessoas organizam-se e tem sido extraordinário”, referiu.
António Oliveira e Silva frisou que a disponibilidade dos profissionais de saúde do seu serviço é de 24 horas e mostrou-se “feliz” com as avaliações que têm recebido por parte dos doentes e familiares.
“A experiência está a ser muito boa e isso reflete-se no ‘feedback’ que recebemos. É muito gratificante”, resumiu, identificando, ainda, como apostas para um futuro próximo, o aumento de admissões diretas a partir de estruturas residenciais para idosos e unidades de cuidados primários de saúde.
Hoje, a cerimónia dedicada ao 5.º aniversário daquele serviço do São João tem a presença prevista do coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, Delfim Rodrigues.
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