"Estou muito à vontade para dizer que o Dr. Rui Rio não tem que fazer de mim nenhum Cristo da política portuguesa. Sairei pelo meu próprio pé das listas, não sendo candidato novamente. Isso não me prende nada à questão essencial, que é a de um PSD mais forte, um PSD que traga uma nova esperança, para que os portugueses possam ver-nos como uma alternativa ao Governo. Isso é que é importante", assegurou em entrevista à rádio TSF Hugo Soares, o único deputado a assistir na plateia ao desafio para "diretas já" lançado por Luís Montenegro ao líder do partido na sexta-feira passada.
O deputado rejeitou estar a "instigar, ou a deixar de instigar Luís Montenegro, por causa do lugar de deputado", afirmando que dizer isso é "não conhecer a pessoa em causa".
"Parece-me uma lógica completamente invertida: o partido tem regras e as regras são para se respeitar. As listas de candidatura às eleições europeias e às legislativas têm sempre uma intervenção das concelhias e das distritais. O que se quer é que este presidente do partido escolha cada uma e cada um dos candidatos às próximas eleições? Vai inverter toda a história do partido e é ele que vai escolher um a um, os candidatos a deputados?", perguntou.
Por outro lado, o ex-presidente do Grupo Parlamentar social-democrata criticou a hora (17:00 de quinta-feira, no Porto) escolhida para a realização do Conselho Nacional extraodinário do PSD que vai votar a moção de confiança à direção do partido anunciada por Rui Rio, no seguimento do que já havia feito na segunda-feira o líder do PSD/Lisboa, Pedro Pinto.
"Com a escolha desta hora, o Dr. Rui Rio impossibilita os deputados de participarem num Conselho Nacional decisivo para o futuro do PSD nos próximos anos.
Como podem os dirigentes que trabalham em Setúbal, Leiria, Aveiro, Coimbra ou Algarve que "não são profissionais da política" estar no Porto às cinco da tarde de um dia de semana, "vão faltar ao trabalho para ir votar na moção de confiança do Dr. Rui Rio", questionou.
"Creio que só pode haver um propósito, com toda a franqueza, que é evitar uma participação efetiva dos militantes - dos conselheiros nacionais - nesta decisão. Já houve uma primeira decisão, que foi trocar 100 mil para ouvir 136. Essa foi a primeira decisão do Dr. Rui Rio", acusou.
E prosseguiu na crítica à recusa do repto para a realização de eleições diretas para a escolha do presidente do partido: "o Dr. Rui Rio, que tantas e tantas vezes se apregoou contra o aparelho partidário, preferiu ouvir o órgão máximo do aparelho partidário - e eu nunca censuro o Conselho Nacional, que é o órgão representativo dos seus militantes - mas, a verdade é que Rui Rio preferiu ouvir o Conselho Nacional a ouvir as bases do partido. Agora parece que já não quer ouvir os 136. Parece que todos os dias quer diminuir o universo das pessoas que vão aprovar a moção de confiança. A dada altura, com alguma graça, apetecia-me dizer que mais valia vir a Comissão Política Nacional, e aí, se calhar, fazia o pleno. Se calhar nem aí. É preciso ter um bocadinho de decoro".
Hugo Soares insistiu também na necessidade de a votação de quinta-feira ser feita por voto secreto. "... nem coloco essa questão. Acho tão normal que a votação se proceda por voto secreto que, manifestamente, nem percebo essa questão que está agora a acontecer no espaço público. Não pode ser de outra maneira. As pessoas têm que ser livres de expressarem pelo voto, de forma transparente, democrática e confidencial aquilo que entendem sobre o partido. Só assim se evitam as pressões, as lógicas maniqueístas e só assim é possível que o Conselho Nacional possa pronunciar-se em liberdade total", salientou.
O ex-líder da bancada social-democrata rejeitou ainda que o repto de Luís Montenegro esteja a perturbar o partido, considerando ao invés que "a imagem que o PSD está a dar aos portugueses é a de um partido com vitalidade, um partido que tem à sua disposição, neste momento, duas pessoas que podem disputar as eleições com o Dr. António Costa".
"Cada um com o seu projeto alternativo. Creio que estas circunstâncias são perfeitamente normais e devem ser encaradas com naturalidade na vida de um partido", concluiu Hugo Soares na entrevista à TSF.
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