“Não deve haver tabus sobre esta discussão”, disse o presidente da conferência episcopal alemã Reinhard Marx.

“Os desafios particulares para a igreja católica como o celibato dos padres e sobre certos aspetos da moral sexual católica vão ser discutidos de forma transparente, com a participação de especialistas em diferentes assuntos”, disse o cardeal no final da conferência episcopal que hoje terminou.

Um relatório encomendado pela igreja católica há quatro anos e apresentado na passada terça-feira deu conta de pelo menos 3.677 casos, essencialmente relativos a rapazes menores de 13 anos vítimas de abusos sexuais, que vão de tocar nos rapazes a violações, por pelo menos 1.670 membros do clero.

Os abusos decorreram entre 1946 e 2014.

Os autores do relatório identificam o celibato dos padres como umas das causas indiretas das agressões sexuais.

De forma geral, a igreja católica prometeu uma análise interna depois dos “resultados chocantes” do relatório, mas foi vaga sobre a colaboração com a justiça reclamada pelo poder político e pelas associações de vítimas.

“Ainda precisamos de clarificar a forma como procederemos”, disse o cardeal sobre o envio à justiça dos dossiers referentes aos alegados culpados de abusos, acrescentando que o trabalho de renovação da igreja “não se faz da noite para o dia”, mas “deve ser começado”.

Segundo Reinhard Marx, as recomendações formuladas no relatório servirão de “base de trabalho”, tendo a igreja já decidido implementar algumas medidas, como encontros mais frequentes com as vítimas, um apelo a especialistas externos para que colaborem com as dioceses para resolver os problemas ou ainda uma “padronização na manutenção de dossiers pessoais dos clérigos”.

O grupo de investigadores das universidades de Mannheim, Heidelberg e Giessen que desenvolveu o relatório não teve acesso direto aos arquivos das 27 dioceses alemãs, mas baseou-se nos documentos fornecidos pela igreja.

Os investigadores admitem, por isso, que o total de vítimas possa ser bastante mais elevado.

A ministra da justiça Katarina Barley disse que o estudo representa apenas “a ponta do icebergue”.