Lisboa vai estar cheia de jovens na primeira semana de agosto. O "caos", como D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, referia por estes dias é quase certo, pela dimensão do encontro, mas a organização garante estar a preparar tudo o melhor possível.

O plano de saúde já é conhecido, o de mobilidade está em processo (mas vai ser preciso andar muito a pé) e o das forças de segurança nunca vai ser totalmente revelado, como manda a lei. Da visita do Papa já eram conhecidas as datas — mas esta terça-feira foram divulgados os traços gerais do programa, que ainda pode ser alterado pela espontaneidade do pontífice.

Estiveram presentes na conferência de imprensa D. Américo Aguiar, presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e bispo auxiliar de Lisboa, D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, e Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que fizeram um retrato do que vai ser a capital — e o país — daqui a dois meses.

E que não se coloque a hipótese de Francisco não vir a Portugal. O bispo auxiliar de Lisboa disse que a ida do Papa hoje ao hospital foi apenas para "fazer análises" e avisou que não existe um plano B para a Jornada Mundial da Juventude, mas sim um Plano F, de Francisco.

Como vai estar Lisboa?

  • Carlos Moedas lembrou, no início da conferência, que a preparação da JMJ é um "trabalho conjunto" e que, a 56 dias do evento, "a grande obra de terraplanagem no Parque Tejo está concluída". As fundações do altar "estão completamente terminadas" e estará concluído até 9 de julho.
  • O presidente da Câmara de Lisboa garantiu que vai ser possível "manter a cidade a funcionar" durante a Jornada Mundial da Juventude e adiantou que todas as autoridades estão a trabalhar nesse sentido.
  • D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, começou a sua intervenção por dizer que "isto passa tudo muito depressa depois de ter passado", referindo-se ao início da candidatura de Lisboa para acolher a JMJ, há seis anos, e destacou que o processo envolve "dezenas de milhares de pessoas".
  • Passando em revista a História de Lisboa, o Cardeal Patriarca referiu que a Jornada levará Portugal e a capital a todo o mundo. "Há quem diga que [as jornadas] podem ter a ver com a experiência que o Papa João Paulo II teve no Parque Eduardo VII em 1982", recordou ainda.
  • D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, deixou o convite para que todos os portugueses possam visitar o Parque Tejo — Campo da Graça, na denominação da JMJ — a 10 de junho.
  • Quanto ao plano de mobilidade, D. Américo disse que "está a ser trabalhado". "O plano de mobilidade é tipo pescadinha de rabo na boca", uma vez que depende da alocação dos jovens. "A seu tempo, será divulgado e operacionalizado de acordo com as forças de segurança, os diversos operadores e os municípios". Haverá um passe para a Área Metropolitana, para uso dos transportes públicos pelos jovens, e a Fundação está a trabalhar para providenciar transportes privados.
  • Uma das alternativas que está a ser trabalhada é a possibilidade de utilizar os autocarros estrangeiros que trazem jovens até Lisboa para utilização durante a semana da JMJ. Municípios e instituições estão também a ser contactados para se contabilizar a oferta privada disponível.
  • Contudo, "o ADN da Jornada é andar muito a pé", lembrou o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude 2023. "Fazem-se muitos quilómetros", apontou, reforçando que é natural que existam "constrangimentos" nos transportes.

Qual o programa do Papa Francisco em Portugal?

  • Quanto à saúde do Papa Francisco, que hoje se deslocou ao hospital, D. Américo Aguiar garantiu que "hoje foi fazer análises" e que não haverá motivo para preocupação. "Qualquer um de nós vai fazer análises e ninguém dá por isso. Mas quando entramos num hospital vestido de branco, com um solidéu, causa algum impacto", frisou. Quanto a um plano B para a Jornada, o presidente da Fundação JMJ deixou claro: "O nosso único plano é o F, de Francisco", e lembrou que o Papa "é um avô, um octogenário" que por vezes não acata todas as recomendações que lhe dão.
  • O Papa Francisco vai chegar a Lisboa na quarta-feira, dia 2 de agosto. O avião, que parte  do Aeroporto Internacional de Roma/Fiumicino, aterra na Base Aérea de Figo Maduro às 10h00, seguindo-se a receção oficial.
  • Está prevista uma cerimónia de boas-vindas na entrada principal do Palácio de Belém, seguida da visita de cortesia ao Presidente da República, às 11h15.
  • O Papa Francisco vai ainda ter um encontro com as autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático, no Centro Cultural de Belém, às 12h15.
  • Da parte da tarde, às 16h45, o pontífice vai encontrar-se com o primeiro-ministro, António Costa, na Nunciatura Apostólica. Às 17h30, o Papa estará reunido para rezar vésperas com os bispos, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais, no Mosteiro dos Jerónimos.
  • No dia seguinte, quinta-feira, 3 de agosto, o Papa vai participar num encontro com jovens na Universidade Católica Portuguesa, onde vai também benzer a primeira pedra do edifício do novo campus.
  • Às 10h40, Francisco desloca-se a Cascais, para um encontro com os jovens de Scholas Occurrentes, criada pelo próprio Papa quando era arcebispo de Buenos Aires. O dia termina em Lisboa, com a cerimónia de acolhimento no Parque Eduardo VII, às 17h45.
  • Na sexta-feira, 4 de agosto, o Papa Francisco vai acolher alguns jovens em confissão no Parque do Perdão, na Praça do Império, em Belém, às 09h00. De seguida, às 09h45, vai ter um encontro com os representantes de alguns centros de assistência socio-caritativa no Centro Paroquial da Serafina.
  • Ao meio-dia, Francisco vai almoçar com jovens, "representantes dos vários continentes", na Nunciatura Apostólica. Ao fim da tarde, às 18h00, o Papa preside à Via Sacra no Parque Eduardo VII, "um dos pontos altos" da JMJ.
  • Já no sábado, 5 de agosto, o Papa desloca-se à Cova da Iria, como já anunciado. O helicóptero aterra no Estádio de Fátima às 08h50 e recita o terço com os jovens doentes, na Capelinha das Aparições, às 09h30. O pontífice sai de Fátima às 11h00.
  • No mesmo dia, já em Lisboa, Francisco vai ter um encontro privado com os membros da Companhia de Jesus, no Colégio de S. João de Brito. À noite, às 20h45, o pontífice marca presença na Vigília com os jovens, no Parque Tejo.
  • No domingo, 6 de agosto, último dia da visita, a missa final está marcada para as 09h00, "devido ao calor", precisou D. Américo. É nesta celebração que o Papa vai divulgar o próximo país a acolher a JMJ.
  • À tarde, o Papa encontra-se com os voluntários da JMJ no Passeio Marítimo de Algés, num encontro fechado.
  • O regresso de Francisco ao Vaticano está previsto para o início da noite, depois de uma cerimónia de despedida às 17h50 na Base Aérea de Figo Maduro. O avião chegará a Roma às 22h15.
  • D. Américo Aguiar confirmou ainda que o Papa Francisco vai encontrar-se com vítimas de abuso sexual, mas a data e hora no encontro não vai ser divulgada, de forma a que o encontro possa decorrer "com tranquilidade", de forma mais privada, para "preservar a imagem" das vítimas. O encontro foi um desejo manifestado pelo Papa e também pela Igreja em Portugal.
  • Embora não sejam avançados números, este encontro deve contar com cerca de 30 vítimas de abuso sexual.
  • O bispo auxiliar de Lisboa lembrou também que ainda pode acontecer a "Síndrome de Francisco", ou seja, outro tipo de atividades que o Papa decide na hora.

Os números da JMJ

  • Até ao momento estão cerca de 620 mil pessoas pré-inscritas na JMJ. Em fase 2 estão cerca de 400 mil peregrinos inscritos e cerca de 200 mil pessoas já pagaram a sua inscrição.
  • Estes números estão acima do habitual numa Jornada Mundial da Juventude, mas não há ainda garantia do valor final.
  • D. Américo Aguiar lembrou ainda que, olhando para o histórico da JMJ, "por cada um inscrito, participam mais dois ou três" peregrinos, o que pode levar a cerca de 1 milhão de pessoas em Lisboa durante a semana de 1 a 6 de agosto.
  • Até ao momento há cerca de 20 mil peregrinos portugueses, um número que se justifica também pelo facto de os jovens participarem enquanto voluntários. Além disso, "é um problema cativar os jovens do país a inscreverem-se na jornada", pelo que muitos aparecerão sem inscrição.
  • Há mais de 6 mil famílias de acolhimento inscritas até este momento. "Se fossem o dobro, melhor", notou. No que toca a espaços coletivos, há disponibilidade para cerca de 400 mil lugares de alojamento.
  • Quanto aos custos da JMJ, a Fundação aponta para os 20 milhões de euros — mas há encargos que ainda podem fazer oscilar este valor. D. Américo Aguiar lembrou ainda que as contas relativas à JMJ têm sido apresentadas de forma pública, de forma "transparente", com auditorias profissionais. "Vão saber até ao cêntimo a envolvência financeira", garantiu.
  • Quanto aos 20 milhões, este é um valor que a Fundação ainda não atingiu. "Mas eu sou sempre um otimista", rematou.
  • Já existem cerca de 500 jornalistas inscritos, de vários países.