Mais de 400 operacionais combatem as chamas que lavram desde as 13:32 zona de Perna da Negra, concelho de Monchique, no distrito de Faro, e que já obrigaram à evacuação de uma aldeia, segundo dados da Proteção Civil.

De acordo com a página de internet da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), pelas 17:00 estavam no terreno 415 operacionais, apoiados por 122 meios terrestres e nove meios aéreos.

Os bombeiros estão a lutar contra duas frentes ativas, uma delas mais intensa e com o combate mais dificultado, disse à Lusa fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro.

Segundo a mesma fonte, a principal dificuldade dos bombeiros é o vento que se faz sentir na zona.

“Este incêndio começou de forma explosiva, neste momento tem duas frentes ativas, numa delas o combate está a decorrer favoravelmente, mas na outra ainda está muito desfavorável”, afirmou a fonte, ao fazer um ponto de situação cerca das 16:30.

O incêndio está a consumir uma “zona de mato e eucaliptal, com uma orografia bastante difícil”, e as equipas de bombeiros estão a debater-se no terreno com o “vento, que está naturalmente a complicar aquilo que é a operação de combate”, considerou.

“Os meios estão a ser posicionados e estamos a proceder ao combate”, disse ainda a fonte do CDOS.

O incêndio que lavra desde o início da tarde tinha obrigado previamente à retirada de habitantes do sítio das Taipas, a sul da Perna da Negra, local onde deflagrou o fogo, disse à Lusa fonte da Proteção Civil.

O adjunto da ANPC confirmou que a evacuação de uma pequena aldeia foi decidida "por precaução e prevenção, de forma a evitar o pânico, e não porque o local estivesse em perigo".

Luís Belo Costa disse ainda “não haver registo” até este momento de que o incêndio tenha causado a destruição de qualquer habitação.

De acordo com fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro, o fogo deflagrou cerca das 13:30 na zona da Perna da Negra, tratando-se de um incêndio "complexo", numa zona onde "há muito vento" e cujos acessos "são difíceis".

"Ainda não temos informação muito detalhada e a prioridade agora é posicionar os meios", adiantou a mesma fonte.

Uma zona rural do concelho de Monchique já tinha sido atingida por um incêndio, na quinta-feira à tarde, dominado cerca de duas horas depois após um combate travado por 113 homens e seis meios aéreos.

Por causa da persistência de valores elevados das temperaturas máximas o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) estendeu o aviso vermelho, o mais grave, em 11 distritos de Portugal continental até ao início da tarde de domingo, prevendo para hoje valores acima dos 40 graus em grande parte do território.

Face à onda de calor que afeta o país pelo menos até domingo, com temperaturas máximas acima dos 40º e que na quinta-feira na bateram recordes históricos, a Proteção Civil estendeu o estado de alerta especial relativo aos meios de combate a incêndio aos distritos do Porto, Leiria, Aveiro, Braga, Viana do Castelo e Coimbra.

Este ano, o dispositivo de combate a fogos florestais engloba 56 meios aéreos (incluindo um na Madeira), cerca de 11 mil operacionais e mais de três mil meios terrestres (nomeadamente viaturas).

Monchique tenta evitar ignições com prevenção e reforço de meios

A prevenção ao longo do ano, com a colaboração das forças vivas do concelho e reforço de meios em épocas de maior risco, é a estratégia da Câmara de Monchique para evitar incêndios, disse hoje o presidente da autarquia.

O concelho de Monchique, no distrito de Faro, é um dos municípios algarvios com maior área florestal e desenvolve há vários anos uma política de “cooperação com outras entidades”, como bombeiros, caçadores, empresários e até funcionários da autarquia, para prevenir ao máximo o número de ignições que resultam em incêndios, afirmou o autarca, Rui André.

O presidente da Câmara de Monchique adiantou que, neste momento de risco máximo devido à vaga de calor que atinge Portugal, está “uma equipa permanente de ataque inicial, garantida entre a câmara e os bombeiros”, que é “reforçada com a criação de mais equipas, colocadas em sítios estratégicos” do concelho para uma mais rápida resposta em caso de incêndio.

Rui André destacou a importância da colaboração com associações de caça e produtores florestais “para limpeza de terrenos” e “constituição de equipas de vigilância” e enalteceu o trabalho desenvolvido pelas equipas de sapadores florestais e pelo exército, ao abrigo de um protocolo de colaboração na prevenção e vigilância de incêndios, no qual o concelho algarvio “foi pioneiro” em 2010 e que foi depois “replicado por outros municípios”.

“Nesta altura crítica, reforçamos a vigilância com equipas das câmaras”, disse ainda o autarca, precisando que “há trabalhos que não se podem realizar quando se está em alerta vermelho, como trabalhar com máquinas, e os homens que fazem esses trabalhos são redirecionados para tarefas de vigilância” e permitem criar duas equipas de dois elementos cada.

A colaboração com a população para a criação de faixas de proteção em redor de povoações, casas e estradas é outra vertente do trabalho de prevenção e dá “garantias de que os bombeiros e as equipas de emergência conseguem chegar aos locais necessários”, destacou Rui André.

O autarca falou também da parceria com empresários do concelho proprietários de máquinas de rasto, que permite que elas estejam em locais estratégicos e as equipas de socorro saibam, com exatidão, onde se encontram em cada momento para serem ativadas em caso de incêndio, mediante o pagamento de um valor estabelecido por hora e quilómetro.

“As máquinas de rasto são cada vez mais um meio importante no combate e fizemos, há alguns anos a esta parte, acordo com todos os proprietários de máquinas de rasto do concelho de Monchique, que são oito máquinas, e cujos operadores foram fazer formação de combate a incêndio florestais com máquinas de rasto paga pela câmara. Eles informam-nos cada vez que mexem as máquinas e, quando houver uma ocorrência, sabemos qual é a que está mais próxima do incêndio”, explicou.

O autarca revelou ainda que a câmara estabeleceu uma escala para “serviços municipalizados e proteção civil” para dar uma reação “mais pronta”, sinalizou as dificuldades que o município sentiu para encontrar empresas que façam limpeza de terrenos e destacou a criação de uma equipa própria para retirarem animais em caso de fogo.

“A maior parte das pessoas têm animais em casa, diz-se que os animais são soltos e salvam-se sozinhos, mas a experiência que temos não diz isso e sabemos que muitos deles vão contra o fogo e acabam por morrer. Por isso, criámos esta equipa de evacuação de animais”, justificou.