Durante a sua última lição na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, onde teve um percurso académico de 47 anos, Xavier Viegas mostrou um gráfico da estatística dos incêndios em Portugal desde 1943 até ao presente.
“É um problema que está em crescimento e estamos a ter alguns anos catastróficos. É um problema que não é fácil de resolver e que tem muitas causas por trás”, frisou o especialista em incêndios florestais, que despertou para este tema em 1985, após um acidente ocorrido em Armamar, no distrito de Viseu, que provocou a morte a 14 bombeiros.
Xavier Viegas disse que sempre considerou “que a ciência deveria estar ao serviço da sociedade e da pessoa humana na resolução dos seus problemas”.
Nesse âmbito, foi inaugurado na Lousã, em 1999, o Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais, que foi sendo ampliado ao longo dos anos e, atualmente, dispõe de equipamentos de ensaio originais e únicos, que atraem investigadores de todo o mundo.
“Para quem veja isto e pense que é fácil em Portugal fazer estas coisas, engana-se muito”, afirmou, enquanto mostrava imagens das várias fases do laboratório.
Segundo o professor catedrático, quando foi terminado o primeiro edifício “já havia planos ou projetos para construir uma delegação da Escola Nacional de Bombeiros” naquele local e, como não houve financiamento para isso, mais tarde “alguém queria construir uma camarata para bombeiros”.
“Felizmente para nós, esses projetos não foram por diante e pudemos manter o laboratório”, realçou.
Segundo Xavier Viegas, foi desenvolvido trabalho “em várias frentes” no que respeita à introdução de novas tecnologias, tais como “o emprego de retardantes, sistemas eletrónicos de deteção de incêndios, sistemas de proteção de pessoas e bens e robots terrestres e aéreos”.
“Temos alguns projetos em curso, como criar sistemas de proteção para as viaturas de bombeiros, porque todos os anos acontecem acidentes, e sistemas de proteção de casas e de aldeias pelo meio de aspersão de água”, exemplificou.
Para Xavier Viegas, cada acidente investigado “é uma lição”. Foram muitos os que investigou ao longo da sua carreira, mas o momento mais marcante da sua vida ocorreu no dia 18 de junho de 2017, no troço da Estrada Nacional 236-1, onde viu 30 cadáveres em 400 metros.
“Isto é algo que uma pessoa nunca mais esquece. Quem passa por isto já não pode ser o mesmo”, realçou.
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