“A conferência Portugal Medical Cannabis 2019 pretende trazer os principais e mais conceituados investigadores e médicos internacionais que têm uma larga experiência com canábis medicinal, com o intuito de dar informação e formação aos profissionais de saúde portugueses”, disse à agência Lusa a presidente do OPCM, Carla Dias.
A lei que legaliza o uso de canábis para fins medicinais entrou em vigor há mais de um ano mas os pacientes estão a comprar o óleo de canabidiol através da internet e gostariam de ter acompanhamento médico, alertou Carla Dias.
Todos os dias, o OPCM recebe pedidos de ajuda de doentes, mas não consegue dar resposta porque, apesar de haver “alguns médicos interessados, são precisos muito mais”.
No seu entender, “continua a faltar muita formação, informação e motivação”.
“Infelizmente, ainda existe muito preconceito, ouvimos todos os dias comentários que já não se ouvem lá fora”, lamentou.
Carla Dias adiantou que o OPMC estabeleceu protocolos com a Faculdade de Farmácia de Lisboa e com o Laboratório Militar, que estão a analisar a qualidade dos produtos vendidos pela internet para “dar alguma garantia aos pacientes” enquanto não forem disponibilizados nas farmácias.
A presidente do observatório apontou ainda o aparecimento no mercado de produtos anunciados como sendo à base de canábis, mas que de “canábis têm pouco”: “São produtos de sementes de cânhamo, que apenas têm vestígios de canabinoides, sem qualquer propriedade terapêutica”.
Perante esta realidade, Carla Dias apelou aos profissionais de saúde para participarem na conferência que decorre na sexta-feira e no sábado em Lisboa, para ouvirem “os investigadores internacionais e também para perceberem que há de facto qualidades terapêuticas na planta”.
"Nós até estamos a oferecer convites para profissionais de saúde que queiram assumir o compromisso de ajudar os pacientes", sustentou.
“Existem alguns ensaios clínicos, mas é necessário fazer mais, bem como estudos científicos, e nós precisamos de profissionais de saúde do nosso lado para que isto avance”, salientou.
O apelo do OPMC é o de muitas mães, como Carla Cabrela, que tem um filho de 14 anos com uma forma grave de autismo e tem pedido ajuda aos médicos.
“Apelo à comunidade médica que tenha a coragem de abrir novos caminhos”, disse Carla Cabrela à Lusa, contando que já deu canabidiol ao filho, mas é um tratamento que não pode continuar por ser caro.
A viver em Elvas, Carla Cabrela tem de deslocar-se com frequência a Lisboa, onde o filho “já teve internamentos de longa duração", "por tês vezes seguidas", no Hospital D. Estefânia, onde é seguido em oito especialidades.
“Confio muito na equipa, mas estamos a 250 quilómetros do hospital e ele pode morrer no caminho”, afirmou.
O jovem tornou-se, entretanto, refratário, ou seja, a medicação deixou de fazer efeito. Os médicos vão acrescentando medicamentos, somando 14 atualmente, “mas não experimentam canábis”.
“O meu filho está neste momento a tomar lítio, o que está a fazer com que esteja de fraldas. Não lhe está a trazer bem nenhum, mas eu não lho consigo retirar porque é um medicamento superperigoso”, lamentou.
Carla já sugeriu aos médicos o uso de canabidiol, mas estes dizem que não há garantias: “Já lhes pedi, por favor, que o Afonso seja um caso experimental, seja uma cobaia, eu não me importo”.
“A lei está aprovada, mas é mentira. Não há nenhum médico que receite, é só para inglês ver”, lamentou.
Neste momento, Afonso “está a fazer uma adaptação à escola, em Badajoz, mas não está bem, porque torna-se agressivo”.
“A agressividade é muita, a ponto de termos de lhe pôr luvas para que não se autoagrida, nem a nós, e um capacete na cabeça para não se magoar”, contou, adiantando que em casa tem de “andar com ele pela mão, se não ele parte, deixa cair as coisas ou foge”.
Apesar de cansada, Carla disse que vai continuar a lutar: “Se há coisa que o meu filho me ensinou foi a ser resiliente. Ele é extraordinariamente resiliente, ele não desiste. Se ele não desiste como é que eu posso desistir?”.
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