Os pareceres negativos da Direção de Gestão de Risco "foram reiteradamente contrariados pela administração da CGD liderada por Santos Ferreira", pode ler-se na sugestão que o PSD faz de alteração de uma das conclusões do relatório da segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD.
A formulação inicial desta conclusão, redigida pelo deputado do CDS-PP João Almeida, não inclui o nome do presidente da CGD entre 2005 e 2007.
Os sociais democratas pretendem ainda ver incluído no relatório que a administração de Carlos Santos Ferreira "exerceu o seu mandato violando as regras de gestão sã, prudente e de racionalidade económica, indiciando a prática de gestão danosa".
Em conferência de imprensa, o deputado Duarte Pacheco considerou que a administração de Santos Ferreira era "de confiança política direta" do governo da altura (PS, liderado por José Sócrates), e que a tutela "interferiu diretamente em operações concretas" da CGD através de "ações diretas de Manuel Pinho e Vieira da Silva [antigos ministros da Economia]".
"A crise não justifica as ações patológicas que foram tomadas pela administração de Santos Ferreira", afirmou hoje Duarte Pacheco no parlamento.
O PSD afirma ainda que, além das "irregularidades" no banco público terem sido reportadas ao Ministério das Finanças, também o foram "ao Banco de Portugal", sem "evidência de diligências efetuadas no sentido de as colmatar".
De acordo com o partido, "o BdP, então liderado pelo dr. Vítor Constâncio, não seguia os problemas detetados, assumindo que as suas orientações eram executadas, o que muitas vezes não acontecia", bem como "não se preocupou" com a "operacionalidade" dos modelos de 'governance' [governança] da CGD, algo que quer ver incluído no relatório.
Relativamente ao 'assalto' ao BCP, o PSD considera que o BdP de Constâncio, "embora munido de toda a informação que lhe permitia concluir pelo risco sistémico que se estava a criar com a concentração de empréstimos para aquisição de ações do BCP, nunca alertou a CGD para a irracionalidade destas operações e para o perigo que, no seu conjunto, estavam a criar para o sistema financeiro nacional".
Aos jornalistas, o deputado do PSD Duarte Pacheco referiu que Vítor Constâncio "falhou grosseiramente por omissão, mas também por ação", e que o BdP por si liderado "autoexcluiu-se do seu papel de supervisor, enquanto se entretinha em jogadas pelo controlo de bancos privados".
"A existência de créditos de favor e o tratamento privilegiado de entre um grupo restrito, um verdadeiro 'triângulo nefasto' que inclui alguns agentes do poder económico, político e financeiro discriminado face aos demais portugueses é algo que existiu e é inaceitável", disse Duarte Pacheco.
Nas propostas de inclusão no relatório, o PSD afirma que "existe e subsiste um grupo restrito de pessoas e empresas que beneficia e concede entre si tratamentos privilegiados", acrescentando que na comissão de inquérito esse grupo "reproduziu um padrão de encobrimento mútuo, através da defesa coletiva, do silêncio, da concertação de narrativas e mesmo da falta de memória".
Relativamente a casos concretos, no caso do crédito da CGD a José Berardo o PSD afirma que "não se pode afastar a possibilidade de em momento prévio ter havido contactos promovidos pela CGD junto do cliente", e que no projeto Artlant houve "provável pressão política".
Duarte Pacheco referiu que hoje "os portugueses sabem mais sobre o que aconteceu na Caixa" e que "valeu a pena insistir" pela realização da segunda comissão de inquérito ao banco público.
O deputado indicou ainda que não "repugna" ao PSD a inclusão de nomes como o de Celeste Cardona e outros administradores como responsáveis por créditos ruinosos, mas quer "separar o trigo do joio", porque uns foram "cúmplices" e outros "agentes concretos desses processos".
As alterações e o relatório final serão debatidos e votados hoje, em reunião da comissão, a partir das 15:00.
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