Em declarações à agência Lusa, o presidente do conselho de Administração da ULSAM, Franklim Ramos, disse hoje ter instaurado o inquérito na sequência de um abaixo-assinado subscrito por mais de 40 profissionais da UCI que se queixam do “ambiente verdadeiramente insuportável” que se vive naquele serviço.

No abaixo-assinado, a que a agência Lusa teve acesso, os subscritores descrevem “um ambiente de constante crispação, atemorização e, sobretudo, de abespinhamento dos enfermeiros de serviço, que está a ter reflexos na sua vida pessoal e profissional, o que, em última análise, compromete a qualidade dos serviços prestados aos utentes”.

A Lusa contactou um dos médicos subscritores do abaixo-assinado, mas sem sucesso.

Os profissionais da UCI dizem que “no presente momento não inexistem condições que permitam à equipa de enfermagem efetuar o seu trabalho com o brio e o denodo que sempre lhes foi reconhecido”.

“Nos últimos oito anos já passaram quatro enfermeiros pelo cargo de gestor e saíram, tendo a enfermeira agora cessante permanecido no cargo menos de um ano, o que diz muito sobre o ambiente por nós vivenciado no serviço e que, no curto e/ou médio prazo, vai irremediavelmente acabar por ter reflexos na prestação de cuidados aos doentes”, lê-se no documento.

Segundo Franklim Ramos, “o conselho de administração recebeu grande parte dos profissionais que subscreveram o abaixo-assinado (…) Ouviu o que tinham a dizer”.

“Aquilo que eu ouvi é matéria para abrir um processo de inquérito. Foi o que eu fiz. E por aqui me fico”, afirmou, escusando-se a especificar as razões que motivaram aquela tomada de posição.

O responsável admitiu ser “natural” que “existam conflitos nas estruturas”, mas sublinhou que a ULSAM “tem ao seu dispor normativos legais para resolver este tipo de situações” sem ter de “andar a discutir as coisas na praça pública”.

Franklim Ramos adiantou que, na reunião que promoveu, os profissionais de saúde “exprimiram o descontentamento” e adiantou estar a aguardar “com calma e tranquilidade” as conclusões do inquérito.

O administrador referiu ter “todo o interesse que o processo de inquérito seja célere, mas a partir do momento que o conselho de administração abre um processo de inquérito não age sobre o instrutor”.

“O instrutor do inquérito, já nomeado, vai ouvi-los, vai elaborar o relatório do inquérito que será submetido ao conselho de administração que decidirá sobre o resultado”, sustentou.

Franklim Ramos garantiu que a UCI, “um serviço de excelência da ULSAM, dotado de pessoal muito competente, está a funcionar muito bem”.

“De acordo com a informação que tenho, neste momento, está a funcionar tudo normalmente. O que me interessa é que não haja prejuízo para tratarem os doentes. O resto será resolvido de acordo com os normativos legais que a instituição tem ao seu dispor para resolver situações destas”, disse.

No início deste mês, em comunicado, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) divulgou ter tido conhecimento “da ocorrência de assédio laboral e violência psicológica no serviço de Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Luzia, Viana do Castelo”.

Confrontado com as afirmações do SIM, Franklim Ramos respondeu: “não queria entrar por aí, porque o conceito jurídico de assédio tem um significado diferente daquele que popularmente se diz”.

No comunicado, o SIM, “para além de manifestar a sua total disponibilidade para ajudar os médicos vítimas desse abuso, lamenta a inércia do conselho de administração e da diretora clínica, que deveria ser a garante das boas relações e do respeito entre os médicos da instituição”.

A ULSAM gere os hospitais de Santa Luzia, em Viana do Castelo, e o hospital Conde de Bertiandos, em Ponte de Lima. Integra ainda 12 centros de saúde, uma unidade de saúde pública e duas de convalescença, servindo uma população residente de 231.488 habitantes nos 10 concelhos do distrito e algumas populações vizinhas do distrito de Braga.