"Um dos grandes problemas na saúde não é tanto o prognóstico e as terapêuticas, mas sim o diagnóstico", disse o especialista do Instituto de Bioética da Católica-Porto, falando à Lusa a propósito da 4.ª edição do ICONE - International Conference on Neuroetchics, uma conferência sobre inteligência artificial, que decorre hoje, na Católica Porto.

Segundo o investigador, muitas doenças são causadas pela dificuldade na identificação do diagnóstico, situações que se podem alongar por meses ou anos.

Caso se consiga criar uma base de dados ou uma estrutura de inteligência artificial que origine um "diagnóstico mais fidedigno", será possível começar a terapêutica de uma forma "muito mais assertiva e com melhores resultados" para a qualidade de vida dos doentes, referiu.

"Neste momento, o verdadeiro avanço prende-se aos mega computadores, que podem ser ótimos auxiliares na área do diagnóstico, pela sua capacidade em realizar análises comparativas de todos os meios auxiliares de diagnóstico, obtendo, depois, um diagnóstico mais assertivo", referiu.

Contudo, ao mesmo tempo, existe o receio de que essas máquinas "mais complexas e eficientes" levem à perda da narrativa da medicina e da relação tradicional entre o médico e o doente, "o alicerce de toda a estrutura".

Para o investigador, outra das "grandes preocupações" está associada aos dados pessoais utilizados pelas mesmas máquinas.

"Esses grandes computadores têm, na sua base de dados, milhares de exames, de diagnósticos complementares, compilando mais informação do que a experiência de qualquer médico", acrescentou.

No entanto, sem acesso a essa quantidade de dados, "a máquina não pode fazer o seu trabalho", notou, indicando que é isso que as leva a serem carregadas com "os dados de milhões de pessoas com patologias semelhantes e de meios auxiliares de diagnóstico".

De acordo com António Jácomo, isso leva a "um inevitável extravasar dos dados pessoais, que são da propriedade das pessoas e dos doentes".

Questionado sobre uma eventual substituição total dos profissionais de saúde pela robótica e pela inteligência artificial, o investigador disse que "as máquinas poderão fazer todo o trabalho", caso os humanos assim o pretendam.

"O nosso trabalho, no Instituto de Bioética e noutros grupos ligados a questões da ética, é chamar a atenção de que, no final, o grande ordenador de todo este recurso tem que ser sempre o profissional de saúde", frisou.

O professor acredita que os profissionais de saúde vão "ter sempre um papel primordial", embora considere que os jovens médicos e a nova medicina (que já não se baseia apenas na evidência) terão que enfrentar "novos desafios", precisando de estar mais bem preparados, a todos os níveis, para que "continuem a dominar a máquina".

Além das implicações da inteligência artificial na saúde, a conferência ICONE aborda temas relacionados com os robôs cognitivos e a revolução ética, os novos desafios colocados à sociedade e as questões sociais, éticas e económicas que influenciam o desenvolvimento da robótica.