“Temos notado mais pedidos de informação sobre propriedades em Portugal por parte de compradores de Hong Kong, nos últimos meses. Muitos veem a residência portuguesa como uma opção alternativa na Europa”, disse a diretora de operações da List Sotheby’s, Binoche Chan, ao jornal South China Morning Post (SCMP).
Segundo a analista em imobiliário, os requisitos para obter residência em Portugal “são relativamente baixos em relação a outros destinos populares”.
O aumento dos pedidos de informação coincide com a escalada das tensões em Hong Kong, na mais grave crise política desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997, desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que tem levado, desde o início de junho, a protestos de milhares de pessoas em diferentes pontos da região administrativa especial chinesa.
A proposta, que permitiria a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental, foi já suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e reivindicam agora medidas para a implementação do sufrágio universal no território, a demissão da atual chefe do Governo, uma investigação independente à violência policial e a libertação dos detidos ao longo dos protestos.
A Henley & Partners, consultora especializada em questões de residência e cidadania, observou um “pico dramático” em pesquisas recentes em Hong Kong, com um aumento de 260% em junho em relação ao ano anterior. O número de consultas em julho mais que dobrou em relação ao mês anterior.
“Em 2019, mais inquéritos de cidadania são provenientes de Hong Kong do que qualquer outro território asiático, incluindo a China continental. Em Hong Kong, a maioria das pessoas com alto património líquido está a decidir agora que precisa de um plano de reserva e uma residência no exterior, caso precisem sair rapidamente da cidade”, disse o sócio-gerente da Lesperance & Associates, David Lesperance, ao mesmo jornal.
“Para alguns, a Europa é um destino óbvio. Portugal é, juntamente com a Grécia, a maneira mais fácil e barata de obter residência permanente na Europa”, acrescentou o responsável da empresa, também especializada em pedidos de obtenção de vistos de residência.
Em Portugal, o programa Autorização de Residência para Atividade de Investimento (ARI), lançado em outubro de 2012, registou um investimento acumulado até julho de 4,7 mil milhões de euros, com a aquisição de imóveis a somar 4,3 mil milhões de euros.
Os vistos “dourados” atribuídos por via da transferência de capital ascendem a 459 milhões de euros.
Desde a criação deste instrumento, que visa a captação de investimento, foram atribuídos 7.738 ARI: dois em 2012, 494 em 2013, 1.526 em 2014, 766 em 2015, 1.414 em 2016, 1.351 em 2017, 1.409 em 2018 e 776 em 2019.
Até julho último, em termos acumulados, foram atribuídos 7.291 vistos ‘gold’ por via da compra de imóveis, dos quais 357 tendo em vista a reabilitação urbana.
Por nacionalidades, a China lidera a atribuição de vistos (4.331), seguida do Brasil (801), Turquia (353), África do Sul (303) e Rússia (269).
O SCMP, que cita informações do portal imobiliário Juwai.com, apontou que de abril a junho, a procura chinesa e de Hong Kong por imóveis em Portugal aumentou 40,4% em relação ao ano anterior, o maior número de consultas em qualquer trimestre desde 2016.
“Portugal não é um dos dez melhores países para compradores chineses, mas para aqueles que procuram um visto ‘gold’ está entre os três primeiros”, disse o presidente executivo da Juwai.
Georg Chmiel lembrou que Lisboa foi classificada, já este ano, pela consultora Price WaterhouseCoopers (PwC) como a melhor cidade em investimentos imobiliários e entre as principais cidades europeias em termo de perspectiva de desenvolvimento.
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